Título: FBI auxilia investigação sobre lixo hospitalar
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 21/10/2011, O País, p. 14

Agentes rastreiam importadores do material americano encontrado em Recife; hospitais brasileiros podem estar envolvidos

RECIFE. O cerco à importação irregular de lixo hospitalar dos Estados Unidos começa a se fechar. Depois da instauração de inquéritos na Polícia Civil de Pernambuco e na Polícia Federal, ontem foi a vez de o FBI (Federal Bureau of Investigation) entrar nas investigações. Eles chegaram a Recife na manhã de ontem e tiveram reuniões com órgãos de segurança no estado. Primeiro na PF e, em seguida, no Instituto de Criminalística, onde se surpreenderam com a variedade de material hospitalar enviado a Pernambuco e principalmente com lençóis que pertenciam ao Department of Veterans Affairs, órgão americano de assistência a ex- combatentes.

- A visita se resumiu a fotografias e manuseio de amostras, mas o que chamou a atenção deles foram lençóis de instituições públicas americanas, mantidas pelo governo dos Estados Unidos. Eles fotografaram tudo e vão colocar o assunto no relatório que devem enviar a Washington. A origem desse material é de grande importância, pois é preciso saber como chegou ao Brasil uma mercadoria que a princípio pertence ao poder público americano - afirmou o Secretário de Defesa Social de Pernambuco, Wilson Damázio.

Foram encontrados materiais de 15 instituições dos EUA

Os dois estrangeiros chegaram a Recife, depois que o Governador Eduardo Campos (PSB) enviou um comunicado oficial à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, solicitando que o governo americano designasse "autoridade para acompanhar as investigações".

Os agentes americanos Richard Cavalieros e Alvin Medina vão trabalhar em cooperação, rastreando os exportadores e importadores da mercadoria.

Ontem, no Instituto de Criminalística, peritos separaram os tecido para identificar a natureza das secreções encontradas nas roupas importadas.

- A polícia civil avança no seu inquérito que já está quase pronto. Estamos aguardando a perícia do IC. Dependendo do que a Justiça estadual disser, a gente pode encaminhar o resultado da investigação para a Polícia Federal - disse Damázio.

Segundo o gerente da Apevisa, Jaime Brito, há material proveniente de pelo menos quinze instituições americanas, entre elas o Department of Veterans Affairs (com inscrições de venda proibida), Lexington Medical Center, High Point Regional Health System, McLeod Regional Medical Center e Medtex Laundry Services in Memphis.

Ontem, o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Federal e a Apevisa se reuniram. O MPT recolhe informações sobre a empresa importadora, porque recebeu denúncias de que nela trabalham adolescentes manuseando o material infecto. O MPF também solicitou à Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde que faça inquérito epidemiológico nas unidades da empresa suspeita.

Mas não é só o lixo hospitalar americano que está sendo reaproveitado na fabricação e venda de confecções na região agreste de Pernambuco. Depois de denúncias de que hospitais brasileiros também estão envolvidos no esquema, ontem auditores fiscais do estado apreenderam 14 toneladas de mercadorias suspeitas que seriam descarregadas em Santa Cruz do Capibaribe, a 192 quilômetros de Recife.

Denúncias de roupas com logomarcas de hospitais

Anteontem, o servidor público José Carlos da Silva denunciou ao portal NE10, do "Sistema Jornal do Commercio", de Recife, que comprou uma calça de jeans no camelódromo da capital e observou que cada bolso tinha a logomarca de um hospital diferente. No caso o Hospital do Coração Balneário Camboriú e outro da Santa Casa, em Belo Horizonte. Moradora de Olinda, a dona de casa Maria Siale dos Santos Ventura fez denúncia semelhante no mesmo veículo. Ela comprou uma calça jeans para o filho na sulanca (feira de confecções populares), em Olinda. E observou que os dois bolsos tinham logomarca de uma clínica chamada São Lucas.