Título: Os ricos passam o chapéu
Autor:
Fonte: O Globo, 27/10/2011, Economia, p. 27

Cúpula da UE deve elevar fundo de resgate a 1 tri, com dinheiro de emergentes, principalmente a China

BRUXELAS, NOVA YORK e RIO

Aesperada reunião de cúpula da União Europeia (UE) não trouxe a solução definitiva para a crise da dívida, mas deu algum alívio aos mercados ao sinalizar que o fundo de resgate europeu, de 440 bilhões, será ampliado "várias vezes" - a expectativa é de 1 trilhão. Isso seria feito por meio da criação de um instrumento especial para atrair investidores externos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e recursos de grandes economias emergentes, como a China. Com esse objetivo, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, vai telefonar hoje a seu colega chinês, Hu Jintao. E amanhã o diretor do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), Klaus Regling, irá à China conversar com potenciais investidores.

Outra possibilidade de ampliação do Feef seria a emissão de garantias na compra de títulos de países da zona do euro endividados. A China tem sido uma compradora dos títulos, que têm classificação "AAA". Os detalhes da solução, no entanto, só serão acertados em novembro, segundo rascunho de um documento ao qual teve acesso a agência de notícias Reuters. A perspectiva de um acordo, no entanto, foi o bastante para que os mercados que ainda estivessem abertos encerrassem em alta. A cúpula avançou com relação à recapitalização dos bancos da região e nas discussões sobre as perdas dos credores privados com a dívida grega, que, segundo fontes, podem ficar acima de 50%.

Restrição a bônus em bancos resgatados

O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 1,39%, enquanto S&P subiu 1,05%, e Nasdaq, 0,46%. O otimismo chegou ao Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que fechou em alta de 1,52%, aos 57.143 pontos, maior patamar desde 16 de setembro. Dos 68 papéis que compõem o índice, 56 tiveram ganhos. O destaque foram as siderúrgicas, graças à valorização de commodities metálicas. No mercado cambial, o dólar comercial recuou 0,11%, a R$1,760. Durante o pregão, a moeda chegou a cair 0,85% e a subir 0,62%, refletindo o nervosismo dos investidores com o cenário externo.

- Apesar de não haver detalhes, pelo menos parece que estão indo na direção certa, e é um sinal de unidade na UE - disse à Reuters Ravi Bharadwaj, analista de mercado da Travelex Global Payments.

A ampliação dos recursos do Feef foi aprovada ontem pelo Parlamento alemão, em um resultado que fortaleceu a posição da chanceler Angela Merkel nas negociações da UE. A proposta foi aprovada por 503 dos 596 parlamentares alemães. Antes da votação, Merkel disse que a Europa enfrentava seu momento mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial:

- O mundo está olhando para a Alemanha e a Europa, para ver se estamos prontos e somos capazes de assumir a responsabilidade. Se o euro falhar, a Europa falha.

Mas permanece a incógnita de um novo resgate para a Grécia. Em discussões com os credores privados, as autoridades europeias buscavam uma redução entre 50% e 60% do valor dos títulos gregos. O objetivo é reduzir a dívida grega a 120% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim da década. Segundo o jornal britânico "Financial Times", estima-se que ela chegue ao pico de 186% em 2013.

- Não houve consenso sobre um acordo grego ou um percentual específico de perda - disse Charles Dallara, diretor do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), que representa os bancos e investidores privados. - continuamos abertos a um diálogo em busca de um acordo voluntário.

Depois da reunião de cúpula em Bruxelas, a Autoridade Bancária Europeia afirmou que os bancos da região terão de levantar 106 bilhões em recursos para cumprir as novas exigências de capital de reserva. Segundo o órgão, a maior necessidade é dos bancos gregos, que precisarão de 30 bilhões, seguidos pelos espanhóis, com 26,2 bilhões. Os italianos terão de aumentar seu colchão em 14,8 bilhões, e os franceses, em 8,8 bilhões. Além da recapitalização, as autoridades europeias querem adotar restrições para pagamento de dividendos e bônus por bancos que precisem reforçar seu capital.

O órgão regulador ressaltou que as estimativas são preliminares e serão revistas em novembro, quando a reunião dos ministros de Finanças do bloco, prevista para o dia 7, acertará os detalhes do que foi acertado pelos líderes da UE. A recapitalização terá de ser feita até 30 de junho de 2012.

COLABOROU Bruno Villas Bôas