Título: Aldo deverá ter carta branca para trocar postos
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/10/2011, O País, p. 4

Deputado do PCdoB teria sofrido resistências por sua atuação como relator do Código Florestal na Câmara

BRASÍLIA. Se confirmado na reunião de hoje da presidente Dilma Rousseff com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, Aldo Rebelo deverá assumir o Ministério do Esporte com carta branca do partido para fazer uma faxina no comando da pasta, trocando os dirigentes envolvidos nas denúncias de corrupção e desvios do programa Segundo Tempo. Além disso, contou pontos a favor dele o fato de ter bom trânsito entre todos os partidos no Congresso e de ser considerado "um político frio, calmo", pronto para enfrentar eventuais novos problemas.

O PCdoB tanto resistiu a entregar a cabeça do ministro Orlando Silva e trabalhou de tal maneira para manter-se à frente do Ministério do Esporte que conseguiu. Aldo foi escolhido pelos dirigentes e líderes do partido como o nome de consenso para suceder a Orlando. A proposta, porém, não chegou a ser formalizada ontem à presidente Dilma Rousseff. A sugestão do PCdoB será feita na reunião de hoje com a presidente.

A não divulgação do nome do sucessor de Orlando, ontem, gerou a especulação de que a presidente resistia a nomear Aldo. Como relator do Código Florestal, recentemente, ele impôs uma derrota ao governo no Congresso, atendendo aos interesses da bancada ruralista. Ainda assim, Aldo é o nome mais forte para assumir. A garantia de que o ministério continuará nas mãos do PCdoB foi dada de manhã pelo ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho.

A resistência do PCdoB a entregar o cargo surpreendeu muitos políticos e até a presidente Dilma Rousseff. Nos últimos dias o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, estimulado pelo ex-presidente Lula, comandou uma reação violenta à queda iminente de Orlando. Quando viu que era insustentável a situação de Orlando, a cúpula do PCdoB decidiu se unir, então, em torno do nome do substituto. Foi quando concluíram que a melhor opção seria Aldo Rebelo, ex-presidente da UNE como Orlando.

Mesmo com o passivo do Código Florestal, interlocutores da presidente consideraram que ele é a melhor opção dentro do PCdoB. Recentemente, Aldo tentou apoio do Planalto para conquistar uma cadeira de ministro do Tribunal de Contas da União, mas o governo apoiou Ana Arraes (PSB-PE), empossada ontem com a presença de Dilma.

Não é a primeira vez que o PCdoB conseguirá impor sua vontade à presidente Dilma - se Aldo for mesmo nomeado. Ainda na transição de governo, no fim do ano passado, a cúpula do PCdoB atropelou a presidente eleita - que queria nomear para o cargo a deputada Luciana Santos (PE) - e insistiu no nome de Orlando.

Desta vez, a despeito das suspeitas de corrupção nos convênios realizados pelo ministério no programa Segundo Tempo, o partido de Orlando Silva cumpriu até a última hora o conselho do ex-presidente Lula, que disse que eles deveriam ter "tutano", o "couro duro" para continuarem firmes no posto.

No plano de resistência traçado pelo partido comunista, falou-se de tudo em defesa do ministro e de sua participação no esquema de desvio de recursos repassados a ONGs: luta de classes, complô da Fifa e da CBF, contrariadas com as regras da Lei Geral da Copa, e cobiça dos partidos aliados da base de olho no Ministério do Esporte. Outra defesa era a desmoralização do delator, o PM João Dias, que não teria provas do esquema de desvios.

Abertura de inquérito liquidou resistência do PCdoB

As conferências estaduais do PCdoB se transformaram em atos de desagravo a Orlando Silva. Até mudou, à última hora, o programa partidário de rádio e TV exibido quinta-feira passada, para Orlando se defender.

Enquanto isso, Orlando tentava dar normalidade à sua agenda de ministro. Não conseguiu por muito tempo. Mas o humor e a disposição do ministro surpreenderam o meio político. Desde a primeira aparição pública pós-denúncias, dia 15 de outubro, Orlando tentou manter tranquilidade, prometendo desmascarar "as farsas publicadas que atacam minha honra, meu partido e meu governo".

A pá de cal na resistência de Orlando e do PCdoB veio anteontem, quando o Supremo Tribunal Federal anunciou a abertura de inquérito para investigar sua participação em supostos desvios no Esporte, enquanto ele falava numa comissão da Câmara. Dali, ele já saiu abatido.

à noite a cúpula do partido se reuniu e jogou a toalha. Os dirigentes concluíram que se não entregassem Orlando, o prejuízo político-eleitoral provocado pelo escãndalo poderia ser irreversível para o PCdoB.