Título: No Esporte, uma troca de guarda
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/10/2011, O País, p. 3

Orlando sai, mas PCdoB manterá ministério e nome de Aldo Rebelo deve ser anunciado hoje

Gerson Camarotti, Luiza Damé e Chico de Gois

Após resistir por 12 dias, Orlando Silva acabou saindo ontem do Ministério do Esporte, mas a presidente Dilma Rousseff manterá o PCdoB no comando da pasta, controlada pelo partido desde 2003, primeiro ano do primeiro governo Lula. Dilma pensou em tirar o partido aliado do Esporte, para desmontar o esquema de corrupção que teria sido montado envolvendo ONGs conveniadas do Programa Segundo Tempo. Mas "a relação de intimidade e de identidade" que o partido tem com o governo petista, como frisou ontem no Planalto o presidente da legenda, Renato Rabelo, deve garantir hoje a nomeação do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no lugar de Orlando.

Dilma e Renato Rabelo vão se reunir esta manhã para bater o martelo sobre a sucessão no Esporte. Dirigentes do PCdoB garantiram à noite que, embora não sugerido oficialmente, o nome de Aldo foi discutido na reunião de ontem entre Dilma, Orlando e Renato Rabelo. E que a presidente já teria aprovado a indicação, mas decidiram deixar para hoje a definição.

Ao adiar a decisão, cresceu no meio político a especulação de que Dilma teria resistência a Aldo Rebelo, por causa de seu papel como relator do Código Florestal. Ele atendeu aos interesses da bancada ruralista, impondo uma derrota ao governo. O Planalto não soltou comunicado oficial informando que, interinamente, responderá pelo ministério o secretário-executivo Waldemar Manoel Silva de Souza.

Após reuniões que entraram pela noite de terça-feira e a madrugada de ontem, dirigentes e líderes do PCdoB foram ao Planalto dizer a Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, que Orlando deixaria o cargo, frisando que o partido desejava ficar com o ministério. Gilberto teria garantido que Dilma manteria o ministério na cota do PCdoB.

PCdoB pressiona para manter pasta

O PCdoB, com o histórico de ser o mais antigo aliado do PT e dos governos petistas, queria a garantia de uma solução rápida para a sucessão de Orlando. Temia-se que uma demora na substituição pudesse levar a legenda a perder o ministério, numa eventual reforma ministerial de janeiro.

Orlando chegou ao Palácio do Planalto pouco depois das 18h e ficou uma hora e 20 minutos reunido com Dilma e Renato Rabelo. Não entregou uma carta demissão, mas anunciou sua decisão de sair do cargo, repetindo o discurso do encontro da última sexta-feira, quando Dilma o manteve, diante das alegações de que as denúncias eram caluniosas.

Antes de Dilma se reunir com o PCdoB, Gilberto Carvalho voltou a dizer, à tarde, que a tendência era a de o partido manter o ministério. Salientou, porém, que, para isso, era preciso resolver logo a situação de Orlando:

- Comuniquei a eles que era preciso dar um passo além. O Orlando teve uma atitude madura de compreender a situação - disse.

Na reunião com Dilma, Orlando fez um balanço de seu trabalho e avaliou a crise causada pelas denúncias do policial militar João Dias. Demonstrando tranquilidade e até bom humor, Orlando voltou a dizer que não haverá provas contra ele:

- Examinamos esta crise que foi criada nos últimos dias. Reafirmei para a presidente que não há, não houve e não haverá quaisquer provas que me incriminem porque fato nenhum houve que possa comprometer minha honra, minha conduta ética. Fui mais uma vez firme e indignado. Falei mais uma vez com a presidente da minha revolta com esse linchamento público que vivi, mas a tranquilizei, dizendo que em poucos dias, poucas semanas, a verdade virá á tona.

Segundo Orlando, o PCdoB não poderia servir de instrumento para ataques ao governo e, por isso, o melhor caminho era sua saída.

- O resultado da reunião que tive com a presidente foi de que a melhor solução seria eu me afastar do governo. Essa é uma decisão consciente que tomei, que a presidente acatou por entender que, dessa maneira, primeiro posso defender com mais ênfase a minha honra, que foi ferida sem nenhuma prova cabal. Segundo, vou poder continuar defendendo como militante e dirigente político o meu governo. Considero este o meu governo e vou defender o seu sucesso até o final.

Renato Rabelo disse que o PCdoB e Orlando são vítimas de uma montagem sórdida e de calúnias:

- Defendemos nosso ministro porque sabemos que ele é honesto, competente e sincero.