Título: Empresa acusada fez saques de R$335 mil
Autor:
Fonte: O Globo, 22/10/2011, O País, p. 12

Segundo polícia, retiradas de suspeita de desvio foram em dias em que empresário teria dado dinheiro a Agnelo

BRASÍLIA. Relatório da Polícia Civil do Distrito Federal na Operação Shaolin, base do inquérito contra o governador Agnelo Queiroz, informa que a Infinita, uma das empresas acusadas de desviar dinheiro do programa Segundo Tempo, fez dois saques no valor total de R$335 mil nos dias 7 e 8 de agosto de 2007. As datas dos saques coincidem com o período em que o empresário Geraldo Nascimento de Andrade diz ter ajudado a entregar R$256 mil em espécie a Agnelo, em frente a uma concessionária em Sobradinho, cidade-satélite de Brasília. Andrade era um dos donos da JG Comércio de Alimentos.

A JG e a Infinita são acusadas de envolvimento no desvio de verbas do Segundo Tempo. Em depoimento à Polícia Federal na quarta-feira, o policial militar João Dias Ferreira disse que a Infinita e a JG eram empresas de fachada. Elas seriam operadas por Miguel Santos Souza para fornecer notas fiscais falsas para ONGs financiadas pelo Segundo Tempo. Segundo o policial, as ONGs simulavam compras para repassar o dinheiro às empresas de Souza. A partir daí, o dinheiro abasteceria os cofres de dirigentes do PCdoB, partido que controla o Ministério do Esporte desde 2003.

Duas ONGs de João Dias, a Federação Brasiliense de Kung Fu e a Associação João Dias de Kung Fu, são acusadas de desviar R$3,2 milhões do Segundo Tempo. Relatório da Operação Shaolin informa que João Dias usou notas falsas das empresas de Souza para justificar despesas inexistentes nos programas de incentivo ao esporte a crianças do Distrito Federal. No depoimento prestado à PF, João Dias não incluiu Agnelo entre os supostos beneficiários dos desvios do programa Segundo Tempo.

Mas, ao ratificar as acusações contra a Infinita e a JG, entre outras, o policial abre caminho para o aprofundamento das investigações sobre a suposta propina. O caso começou numa apuração da Polícia Civil do Distrito Federal. Mas, como a instituição não tem competência legal para investigar desvios com verbas federais, o inquérito foi transferido para a Polícia Federal. Como Agnelo foi eleito governador, o caso subiu para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, a pedido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o caso deverá ser transferido para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Governador nega irregularidades

Em depoimento à Polícia Civil ano passado, Geraldo Andrade disse que, em 7 e 8 de agosto de 2007, ajudou Miguel Souza a fazer dois saques, um de R$150 mil e outro de R$185 mil. No dia 8 de agosto, ele teria acompanhado Eduardo Pereira Tomaz, empregado das ONGs de João Dias, para entregar R$256 mil a Agnelo. Ele estava num Palio vermelho e teria visto Agnelo num Honda preto a um metro de distância. O governador nega qualquer irregularidade no Segundo Tempo. Ele diz que as acusações foram plantadas por adversários da campanha eleitoral do ano passado.

Procurado pelo GLOBO, Tomaz negou que tenha repassado dinheiro de origem ilegal a Agnelo ou a qualquer outra pessoa.

- Essa denúncia é fantasiosa. Se existiu, não foi comigo - disse.