Título: Lula: Acho que nós vamos conseguir tirar de letra
Autor: Farah, Tatiana; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 02/11/2011, O País, p. 11

Com voz rouca, ex-presidente grava vídeo em que demonstra confiança em sua cura e pede apoio para o governo Dilma

SÃO PAULO. "O que aconteceu comigo é daquelas coisas que acontecem com todo mundo, mas que a gente pensa que acontece com os outros, nunca com a gente." Assim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou ontem como recebeu a notícia de que está com câncer na laringe. Antes de deixar o hospital e ainda muito rouco, o ex-presidente gravou um vídeo que foi divulgado no site do Instituto Cidadania, onde Lula trabalha. Ele agradeceu ao "povo brasileiro pelo carinho e solidariedade", pediu apoio para a presidente Dilma Rousseff e disse esperar vencer a doença.

- Estou preparado para enfrentar mais uma batalha e acho que nós vamos conseguir tirar de letra. Basta que a gente siga recomendações médicas, basta que a gente faça aquilo que precisa ser feito. Acho que vou vencer esta batalha. Não foi a primeira e não será a única batalha que eu vou enfrentar. Com a solidariedade de vocês, vai ser muito mais tranquilo, muito mais fácil - disse ele.

No vídeo, Lula aparece abraçado à mulher, Marisa Letícia, e parece falar de improviso, com algumas pausas de reflexão. O ex-presidente apela para que se continue "acreditando no Brasil" e diz ser "inexorável a caminhada do Brasil para se transformar em uma grande economia".

- Não existe espaço para pessimismo. Não existe espaço para ficar lamentando que hoje o dia não foi bom. Se não foi bom, a gente faz ele ficar melhor amanhã - diz ele, que completa: - Sem perseverança, sem muita persistência, sem muita garra, a gente não consegue nada.

O ex-presidente explica que a voz está ruim:

- Tô doido para falar com os companheiros e companheiras mais forte, mas não estou podendo.

E se despede:

- Um beijo e até a primeira assembleia ou primeiro comício ou primeiro ato público.

Agenda foi cancelada até o fim de janeiro

Enquanto a assessoria de Lula divulgava o vídeo, o presidente nacional do PT, o deputado Rui Falcão (SP), conversava com os jornalistas na sede do partido. Ele contou que tem falado semanalmente com Lula sobre questões nacionais e partidárias, e que espera manter essa interlocução com o ex-presidente, que suspendeu sua agenda de viagens até o fim de janeiro.

Falcão não descarta a participação de Lula nas campanhas das eleições municipais de 2012. E ressalta que uma ausência de Lula não seria lamentada só pelos petistas:

- Lula é uma pessoa que não faz falta ao PT: faz falta ao país e ao mundo, na verdade, pela liderança que ele mantém, pelo que representa, pelos eventos que tem produzido internacionalmente. Com relação ao PT, o partido é uma espécie de filho dele. Continuará a ser bem cuidado durante todo esse período.

Lula chegou ao edifício onde mora, em São Bernardo do Campo, às 16h20m e não falou com a imprensa. O diretor-presidente do Instituto Cidadania e amigo de Lula, Paulo Okamoto, acompanhou-o até o prédio e disse que ele continua discutindo política.

- Ele está bem-humorado, discutindo política, programas de saúde e como melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS) - afirmou Okamoto, que tem acompanhado bem de perto o tratamento e esteve no hospital Sírio-Libanês anteontem, no início da quimioterapia. - Já estivemos juntos em greves difíceis, em disputas eleitorais difíceis, mas a doença também é um momento difícil, sempre abala um pouco. Mas estamos confiantes, ele é guerreiro.