Título: País fica em 14º em ranking sobre suborno
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 02/11/2011, O País, p. 3

Mas situação do Brasil melhorou, na avaliação de empresários, segundo pesquisa

BRASÍLIA. Entre as 28 principais economias do planeta, o Brasil está em 14º lugar no ranking dos países cujas empresas mais pagam suborno para fazer negócios no exterior. Apesar da pontuação brasileira ter variado pouco - de 7,4 para 7,7 pontos, numa escala de 0 a 10, em que 10 identifica a nação onde os empresários seriam absolutamente honestos -, o país foi o único que subiu três posições no levantamento, produzido pela Transparência Internacional (TI), na comparação com o estudo anterior, divulgado em 2008, quando o Brasil ficou em 17º lugar. O estudo entrevistou 3.016 executivos nesses 28 países.

O Índice de Pagadores de Suborno (BPI, na sigla em inglês) ainda aponta a grave situação de China e Rússia, duas potências emergentes cujos empresários são os mais corruptos, de acordo com o levantamento.

Na comparação com 2008, o Brasil superou Itália e África do Sul, no levantamento em que os mais honestos são Holanda e Suíça (8,8 pontos). O Canadá perdeu o título de contar com os empresários mais honestos e caiu cinco posições, ficando atrás de Japão, Alemanha e Bélgica. Os empresários brasileiros são menos corruptos que mexicanos e argentinos, quando se trata de negócios fora do país.

Estados Unidos ocupam décimo lugar no ranking

O México está em 26º lugar e a Argentina, que pela primeira vez participou da avaliação, ficou na 23ª posição. Os Estados Unidos, que completam a lista de países do continente americano, estão em 10º lugar.

O diretor regional da Transparência Internacional para América, Alejandro Salas, explicou que o índice de suborno praticado pelos brasileiros os situa numa faixa intermediária, compatível com o medidor anual de corrupção, também produzido pela organização. Para ele, essa melhora em três anos reflete a adoção de regras internas para o combate à corrupção, como a Lei da Ficha Limpa. Isso, segundo ele, não exclui a necessidade de avanços.

- Não é segredo para a comunidade internacional que o Brasil se esforça, especialmente no setor privado e no governo federal, para promover reformas. E os compromissos internacionais assumidos pelo país também afetam as empresas privadas. Porém, percebemos em estados e em municípios uma realidade completamente distinta, com casos absurdos de corrupção, principalmente para financiar campanhas políticas - disse o diretor da Transparência Internacional.

Para a entidade, entretanto, o dado mais preocupante veio de dois gigantes emergentes: China e Rússia, cujo investimento direto no exterior somou US$120 bilhões, em 2010, o que significa quase cinco vezes mais do que os investimentos externos de Brasil e Índia no mesmo período. Para Salas, os empresários dos dois países são os que mais pagam propina porque estão acostumados a subornar seus próprios governantes. Como resultado, empresários de outros países, como do Canadá, diante da concorrência desleal, também passariam a agir na ilegalidade.

- Eles estão distorcendo o mercado, ganhando contratos e concessões sem cumprir com a qualidade adequada, sem atender as exigências. Os competidores dos dois países estão ganhando negócios com a prática de suborno. Isso faz com que empresários dos demais países fiquem tentados a fazer o mesmo. O impacto disso é ainda mais grave sobre os países pobres, em desenvolvimento, que dependem desses investimentos para melhorar a vida de suas populações - disse.

Também foi medido o pagamento de suborno entre empresas, que seria tão comum quanto a corrupção envolvendo companhias e servidores públicos.

- Os empresários se dizem vítimas de governos corruptos. Porém, a pesquisa mostrou que eles são os principais corruptores - disse Salas.