Título: Argentina corta subsídio e eleva custo de empresas
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 03/11/2011, Economia, p. 25

Gás, luz e água ficam mais caros para companhias de vários setores. Governo frisa que medida não atinge residências

BUENOS AIRES. Exatamente dez dias após a esmagadora vitória de Cristina Kirchner nas urnas e três dias depois de ter determinado mudanças no mercado de câmbio, o governo argentino anunciou ontem a eliminação de subsídios às empresas dos setores bancário, financeiro, de seguros, hidrocarbonetos, cassinos, telefonia celular, aeroportos e portos. Em todos os casos, as companhias perderão o total dos subsídios estatais em suas tarifas de água, gás e eletricidade que, segundo estimativas da Casa Rosada, somam 600 milhões de pesos anuais (US$140 milhões).

O anúncio foi feito pelos ministros da Economia, Amado Boudou, e do Planejamento, Julio De Vido. Eles, no entanto, garantiram que a medida não afetará tarifas residenciais. No entanto, o próprio Boudou, eleito vice-presidente em 23 de outubro passado, confirmou a criação de uma comissão ministerial que analisará a situação dos demais usuários do país - empresas e clientes particulares - e assegurou que "algumas coisas devem mudar para melhorar a igualdade e a distribuição da renda". O ministro, que mora no bairro de Porto Madero, um dos mais sofisticados da capital argentina, admitiu que seus vizinhos poderiam arcar tarifas muito mais altas do que as que pagam atualmente.

Ontem, a sensação que predominava no país era de que tanto os controles para as compras de moeda estrangeira como o fim dos subsídios estavam nos planos do governo há várias semanas, mas não foram comunicados para evitar um custo eleitoral.

Segundo economistas locais, a medida informada ontem era necessária, porém, não resolverá um dos principais problemas da Argentina: o aumento do gasto público que, este ano, de acordo com estimativas privadas, crescerá 35% e atingirá cerca de 460 bilhões de pesos (US$108 bilhões).

- O governo gasta US$17 bilhões (quase 4% do PIB do país) em subsídios e esta medida corta apenas US$140 milhões - lembrou a economista Marina Dal Poggeto, do estúdio Miguel Bein e Associados.