Título: Governador: mestre é tratamento usual
Autor: Brígido, Carolina; Aparecida, Joelma
Fonte: O Globo, 03/11/2011, O País, p. 4

Para Agnelo, diálogos entre ele e o policial João Dias não são crime

BRASÍLIA. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), reagiu ontem à divulgação da gravação dos diálogos que mostram a proximidade entre ele e o policial militar João Dias, delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte. Em conversas gravadas pela Polícia Civil, com autorização judicial, Agnelo chama o PM de "meu mestre!" e promete ajudá-lo a preparar a defesa no processo em que é acusado de desviar dinheiro da pasta. Em nota, o governador alegou que sempre costuma chamar as pessoas de "mestre".

"A referência mestre é o tratamento comumente usado por Agnelo Queiroz de forma genérica - diversas outras pessoas recebem essa mesma referência", diz a nota. Agnelo não nega que tenha conversado com João Dias: "Atendia, rotineiramente, a ligações de inúmeras outras pessoas, já que era liderança política na cidade".

Agnelo argumentou que os diálogos entre os dois não caracterizam crime, tanto que o Ministério Público Federal indiciou sete pessoas após analisar o conteúdo das gravações, mas o poupou.

Em meio à crise política, o governador exonerou ontem a chefe da Polícia Civil, Mailine Alvarenga, que estava no cargo desde janeiro, trocando-a pelo delegado Onofre de Moraes. A decisão foi tomada na terça-feira, mesmo dia em que vazaram para a imprensa as gravações feitas pela corporação. Em comunicado, a Secretaria de Segurança Pública do DF atribuiu a substituição a "ajustes naturais".

Em outra nota, a Secretaria de Comunicação do GDF traz um ponto a ponto em que tenta rebater as acusações que pesam sobre o governador. Segundo o texto, Agnelo e João Dias tinham uma relação de correligionários. Os dois já foram filiados ao PCdoB e se candidataram na eleição de 2006: Agnelo a senador e o PM a deputado distrital. A nota destaca que, em 26 de março de 2006, quando Agnelo era ministro do Esporte, ele ordenou que fosse investigado um convênio celebrado com uma das ONGs de João Dias, a Federação Brasiliense de Kung Fu. Agnelo não cita na nota, mas os diálogos gravados pela Polícia Civil são de fevereiro e março de 2010, quando ele já era pré-candidato ao governo do DF pelo PT.

No ponto a ponto, o GDF repete o argumento de que o MPF não denunciou Agnelo e cita uma certidão emitida pelo diretor de secretaria da 10ª Vara Federal, no dia 28 de outubro de 2011, em que não consta o nome de Agnelo.

Agnelo reafirma que houve direcionamento político na origem da investigação e, sem citar os nomes, faz referência a personagens da política local, como o ex-governador José Roberto Arruda e o ex-procurador de Justiça do DF Leonardo Bandarra. "É fundamental relembrar que no momento em que o inquérito revelado pela imprensa foi produzido, o Distrito Federal tinha um governador na cadeia, uma Polícia Civil acéfala e um Ministério Público local que reagia ao comando de um personagem que terminou sendo investigado, defenestrado de seu posto e que hoje responde a ações judiciais. Foi parte dessa polícia e parte desse Ministério Público, àquele momento envolvidos na luta política de um submundo, que Agnelo Queiroz já então se propunha a extirpar, quem iniciou, orientou e divulgou o tal inquérito que ganhou destaque na mídia", afirma a nota.