Título: Sob investigação, Agnelo não enfrenta oposição
Autor: Brígido, Carolina; Aparecida, Joelma
Fonte: O Globo, 03/11/2011, O País, p. 4

Dos 24 deputados do Distrito Federal, apenas dois não são aliados do governador, que é alvo de inquérito no STJ

BRASÍLIA. Apesar de estar sendo investigado por denúncias de desvio de dinheiro do Ministério do Esporte, pasta que comandou de 2003 a 2006, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), não enfrenta qualquer dificuldade política para se manter no cargo. Ele sofre pouca oposição na Câmara Legislativa e vive dias tranquilos em seu reduto eleitoral. Dos 24 deputados distritais, apenas dois integram ativamente a oposição.

Uma delas, Liliane Roriz (PRTB), é filha do ex-governador Joaquim Roriz e irmã da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada em vídeo recebendo propina e depois absolvida pela Câmara dos Deputados da acusação de quebra de decoro parlamentar. A outra opositora é Celina Leão (PSD).

Agnelo é um dos alvos do inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para investigar desvios de dinheiro federal do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte - escândalo que provocou a demissão do ex-ministro Orlando Silva. Há também um inquérito na primeira instância da Justiça Federal em que Agnelo aparece como suspeito de fraudar notas fiscais para justificar os desvios de dinheiro.

Deputada chegou a recolher assinaturas para CPI

Liliane Roriz fez discurso no último dia 18 contra o governador, exigindo explicações, depois que os escândalos vieram à tona. Celina chegou a fazer um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas só obteve seis assinaturas: além dela mesma e de Liliane, subscreveram o documento Aylton Gomes (PR), Eliana Pedrosa (PSD), Rôney Nemer (PMDB) e Wellington Luiz (PSC). Faltaram duas assinaturas e a iniciativa acabou não vingando.

- Peço que deixem de lado o sentimento corporativista político, que hoje não dá mais para aceitar, e incorporem o sentimento de qualquer cidadão brasiliense, que é o de revolta e de cobrar respostas - disse Liliane. - Está na hora desta Casa fazer algo. A oposição é pequena, quase insignificante, mas existe.

Em sua defesa, feita por meio da assessoria de imprensa do governo do Distrito Federal, Agnelo alega que não foi denunciado pelo Ministério Público. Ele lembra que foi apresentada denúncia à Justiça contra sete dos acusados - entre eles, o policial militar João Dias, que denunciou o suposto esquema de fraudes no programa Segundo Tempo. Mesmo não tendo sido denunciado, porém, Agnelo segue investigado na Justiça.

"O MPF, ao examinar o procedimento administrativo e demais documentos do Convênio nº 026/2005, ajuizou ação civil pública em desfavor de alguns réus, dentre os quais não consta o nome de Agnelo Queiroz. Se, da análise detida realizada pelo MPF nos autos anteriormente citados, houvesse qualquer indício de participação do governador do Distrito Federal, certamente ele teria sido arrolado no polo passivo da referida ação, o que não ocorreu", diz nota da assessoria do governador.

"São acusações falsas, irresponsáveis e criminosas"

Na última edição da revista "Época", o denunciante Michael Alexandre Vieira afirma ter sacado no banco R$150 mil para serem entregues a Agnelo. Em sua defesa, o governador diz que esse fato não é verdadeiro e já foi usado nas eleições passadas por seus adversários.

"São acusações falsas, irresponsáveis e criminosas. A revista traz depoimento antigo, armado por adversários políticos durante a pré-campanha eleitoral, na tentativa, que foi frustrada, de inviabilizar minha eleição ao governo do Distrito Federal. Trata-se de farsa desmontada à época, inclusive com o suposto denunciante lavrando em cartório declaração desmentindo as acusações", afirmou.

Em meio à crise, os deputados distritais de Brasília resolveram dar um descanso extra a si mesmos: adiaram para segunda-feira o feriado do Dia do Servidor Público, enforcaram a terça-feira e emendaram com o Dia dos Finados, ontem. Hoje será o único dia da semana em que eles vão trabalhar. Eles terão de votar os 55 itens que estavam na pauta da semana passada, além de outros três de interesse do Executivo. O trabalho ficou acumulado porque, no último dia 27, a sessão da Câmara Legislativa foi suspensa por falta de quorum.