Título: Bovespa sobe 1,5% com corte de juro na Europa e suspensão de referendo
Autor: Bôas, Bruno Villas; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 04/11/2011, Economia, p. 22

Bolsas avançam no mundo. Pequenos investidores sacam R$1,7 bi do mercado paulista

Os mercados financeiros globais subiram ontem na expectativa de cancelamento do referendo da Grécia - que havia provocado uma crise de confiança de investidores sobre os problemas da dívida da zona do euro - e um corte inesperado de juros pelo Banco Central Europeu (BCE). A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou 1,52%, aos 58.196 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. O mercado chegou a subir 2,02% no meio da tarde puxado por ações de exportadoras de matérias-primas e companhias aéreas. No mercado de câmbio, o dólar comercial valorizou-se 0,23%, para R$1,741, após muita volatilidade e remessas de empresas para fora do país.

As bolsas de valores abriram em alta refletindo o inesperado corte nos juros pelo BCE, para 1,25% ao ano. Segundo operadores, a redução da taxa sinaliza que o novo presidente da autoridade monetária europeia, Mario Draghi, estaria disposto a reduzir o custo de empréstimo da região e evitar uma profunda recessão na zona do euro.

Nesse embalo, as bolsas europeias fecharam em alta pelo segundo pregão seguido. Entre os principais mercados da região, avançaram as Bolsas de Londres (1,12%), Paris (2,73%), Frankfurt, (2,81%), Madri (1,61%) e Milão (3,23%).

No início da tarde, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, comentou que poderia cancelar a proposta de referendo no país, marcado para o começo de dezembro, se a oposição grega não insistisse em sua renúncia. Pouco depois, o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, foi taxativo ao dizer que "o governo anuncia formalmente que não vai realizar um referendo".

- O humor externo melhorou, mas as bolsas seguem muito voláteis com boatos e notícias desencontradas - afirma o analista-chefe da XP Investimentos, Rossano Oltramari.

Vale e Petrobras puxam a alta. Ação da Gol dispara

Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, fechou em alta de 1,76%. O Nasdaq, termômetro do setor de tecnologia, avançou 2,20%.

No mercado brasileiro, o destaque ficou para as ações preferenciais (PN, sem voto) da Gol, que receberam recomendação de compra pelo banco estrangeiro Morgan Stanley. Os papéis subiram 8,47%, para R$14,21, o maior avanço em três meses. Os ganhos arrastaram as ações PN da TAM, em alta de 3,28%, para R$34,24.

Mas foram as ações com maior peso no Ibovespa, as chamadas "blue chips", que mais contribuíram para o índice. Os papéis ordinários (ON, com voto) da Petrobras subiram 4,04%, para R$23,67, com o avanço do preço do petróleo no mercado internacional. OGX ON subiu 1,64%, para R$14,18. Já Vale PNA avançou para 3,21%, a R$41,70, acompanhando o preço das commodities metálicas.

Os balanços corporativos divulgados ontem, no entanto, deram rumo negativo para algumas ações no índice. Os papéis da Embraer, por exemplo, tombaram 4,97%, para R$11,08, impactadas pelo prejuízo da fabricante no terceiro trimestre. A companhia divulgou uma perda de R$200 mil de julho a setembro, ante um lucro líquido de R$219,9 milhões no mesmo período do ano passado.

Saques de pessoas físicas devem superar os de 2008

As pessoas físicas, em sua maioria pequenos investidores, sacaram R$1,709 bilhão da Bolsa no mês passado, segundo dados divulgados ontem pela BM&FBovespa. Apesar da alta de 11,49% no Ibovespa, outubro foi o mês em que esses investidores mais sacaram recursos da Bolsa neste ano. No acumulado de 2011, os pequenos investidores sacam R$6,742 bilhões no ano.

Os dados sobre a participação dos investidores são o retrato de um ano ruim. Com o Ibovespa acumulando queda de 16,03% no ano, os saques de pessoas físicas deverão superar até mesmo 2008, quando começou a crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos.

Até setembro, 17.604 pessoas físicas se desfizeram de investimentos em ações. Naquele mês havia 593.311 CPFs cadastrados na Bolsa, enquanto 2010 terminou com 610.915.

- O mercado está muito complicado para o pequeno investidor - diz o gestor de renda variável da Máxima Asset Management, Felipe Casotti.