Título: Vai ou racha
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 04/11/2011, Economia, p. 22

Ontem foi mais um dia tenso na Europa por conta do fator Grécia como entrave auma saída para a crise da zona do euro, mas ficaram mais claras as posições e os temores de cada um dos lados. O primeiro-ministro grego, George Papandreou, recuou em relação ao referendo e disse que o único jeito de a Grécia continuar no bloco é aderindo aos termos do plano de socorro aprovado na semana passada.

Reconheceu, portanto, que não existe uma terceira via: ou a Grécia aceita o plano ou abandona o bloco, exatamente na linha dos discursos inflamados de Nicolas Sarkozy e Angela Merkel no dia anterior. A decisão do primeiro-ministro de convocar um referendo popular para aprovar o plano de socorro, que traz embutido um rigoroso programa de ajuste, esgarçou as relações dos gregos com os demais líderes europeus. E colocou na mesa a possibilidade concreta de a Grécia abandonar a zona do euro.Mas no fundo ninguém deseja que isso aconteça, porque os dois lados sairiam perdendo. Para a Grécia, não tem saída possível sem dor, mas deixar o bloco pode acarretar prejuízos ainda maiores do que permanecer e adotar o remédio amargo do ajuste, com corte nos gastos, perda de emprego e renda.

A conseqüência imediata da saída, na visão de especialistas, seria um calote generalizado da dívida grega. O país passaria a adotar a dracma como moeda e não teria como honrar as dívidas em euro. —A percepção éque terão um default generalizado e desordenado. Com isso, o temor sobre bancos aumenta, assim como as dúvidas em relação a outros países, principalmente a Itália —observa o economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora. A economista Monica de Bolle,da Consultoria Galanto, compara a situação da Grécia fora da zona do euro comadaArgentina,quando desvalorizou a moeda. A população empobreceu ,mas o nosso vizinho ainda conseguiu tirar vantagem da des- valorização, aumentando as exportações para a Europa, que estava em boa fase de crescimento. A Grécia nem teria essa vantagem, pois exporta a maior parte dos produtos para a zona do euro, que agora está em declínio completo. — Os gregos estão se questionando se tem sentido se manterem no euro, mas a saída seria muito dolorosa — destaca. Se para aGrécia tudo indica que omenos pior é permanecer na zona do euro,omesmo vale para os demais países do bloco.

— Se a Grécia sair do euro e afundar, as chances de carregar a Itália são muito grandes, e aí a crise será de proporções sem precedentes — prevê Monica. Contágio não se controla, ressalta. E o calote desordenado da dívida grega afetaria profundamente os bancos franceses, atingindo em cheio o bloco europeu. Na visão da economista, por trás desse ultimato dado à Grécia pelos líderes Sarkozy e Merkel existe um enorme temor que o país deixe o bloco em um momento tão delicado, causando todo esse estrago.