Título: Copa? Que Copa?
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 23/10/2011, O País, p. 4

Parlamentares ignoram depoimento de ministro e só tratam de denúncias

BRASÍLIA. Nem um pouco interessada em debater a Lei Geral da Copa, tema que levou o ministro do Esporte, Orlando Silva, ontem ao Congresso, a oposição foi para cima e defendeu arduamente sua demissão. A Lei da Copa passou ao largo da audiência pública. Dos 21 deputados que usaram a palavra, apenas seis questionaram o ministro sobre o assunto. Os outros 15, entre governo e oposição, defendiam a permanência de Orlando ou pediam sua cabeça.

- Em geral, saudamos a presença de um ministro na Casa. Quero lamentar a presença do senhor, é uma afronta. Está jogando para a plateia. O Brasil não quer o senhor tratando da Lei Geral da Copa, mas quer o senhor distante do Ministério do Esporte. Temos que dar um exemplo ao mundo - disse o líder do DEM, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, no início da sessão, que durou quatro horas.

Orlando não respondeu a sequer um ataque da oposição. Defendeu-se apenas numa entrevista coletiva, onde comentou a abertura de inquérito no STF:

- Fui eu quem propus a apuração. Confio na apuração. Não posso é aceitar o rito sumário, o julgamento antecipado. Há onze dias acontece uma verdadeira campanha contra mim. Uma verdadeira cruzada - disse.

No início da reunião, houve um momento de tensão. O presidente da comissão especial, Renan Filho (PMDB-AL), com base no regimento, não concedeu a preferência da palavra para o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), que reagiu:

- Está formada a tríplice aliança da corrupção: Fifa, CBF e Ministério do Esporte. O circo está armado. Eu me retiro dessa palhaçada - disse Bueno, de pé e e aos gritos, antes de deixar o plenário.

Orlando iniciou sua explanação sobre o projeto da Lei da Copa falando sobre garantias à Fifa, alfândega, câmbio e isenção de impostos. Mas os parlamentares, do governo e da oposição, não demonstraram muito interesse. A questão política e o escândalo que atinge o ministério eram o tema central.

Poucos davam atenção às explicações sobre a Copa. Alguns teclavam no celular ou postavam mensagens no Twitter. Cesar Colnago (PSDB-ES) também pediu a saída de Orlando:

- Ministro, o senhor perdeu a credibilidade. Se afaste.

Simão Sessim (PP-RJ) reagiu:

- Esse deputado foi flagrado recentemente presidindo uma sessão (da CCJ) com apenas um deputado. E aprovaram dezenas de projetos em poucos minutos. E não pediu demissão! Que autoridade tem para pedir a saída do ministro?! - disse Sessim, numa referência à sessão-fantasma, revelada pelo GLOBO em setembro.