Título: Brasil pode retirar medidas de restrição a crédito
Autor: Beck, Martha; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 23/10/2011, Economia, p. 25

Mantega diz que, se a crise global se agravar, governo pode mudar estratégia. IOF sobre financiamento pode cair

BRASÍLIA. Preocupado com a freada brusca sofrida pela economia brasileira, especialmente no terceiro trimestre de 2011, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou ontem que o governo poderá suspender as medidas de restrição ao crédito que foram adotadas desde dezembro de 2010 e ao longo do ano para frear a demanda e segurar a inflação. Entre essas ações está, por exemplo, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para financiamentos a pessoas físicas.

O ministro avaliou que a inflação já dá sinais de trégua e deve perder ainda mais fôlego caso o cenário externo se agrave. Quanto mais a economia internacional desacelerar, menor será a demanda por commodities (produtos básicos), que tendem a ficar mais baratas. Com isso, esses produtos ajudarão a puxar os índices de preços para baixo no país, permitindo um afrouxamento das barreiras ao crédito:

- A inflação nos pressionou um pouco nos últimos meses e o governo teve que tomar medidas para desacelerar (a economia), mas não precisaremos mais dessas medidas daqui a pouco. Se houver agravamento da crise internacional, as commodities vão perder valor, e portanto vai diminuir a pressão inflacionária. Teremos também um cenário mais favorável a estimular uma aceleração da economia, o que não tínhamos até recentemente - disse ele, acrescentando:

- Houve restrição de crédito, mas se a inflação for reduzida como nós estamos vendo que está acontecendo, nós teremos novamente um espaço para novos estímulos para a economia.

Mantega admitiu que o crescimento será baixo em 2011, mas destacou que o cenário será melhor em 2012 e nos anos seguintes. Isso porque, além de uma inflação menor, o país terá juros mais baixos e um quadro cambial mais favorável:

- Esse ano foi mais difícil, com uma crise internacional que não está resolvida. Mas todas as variáveis que vão compor o próximo ano e os seguintes apontam para taxa de crescimento maior do que a que teremos em 2011.

O ministro disse ainda que a Europa não precisa do Brasil para reforçar seu fundo de estabilização financeira - criado para socorrer economias em dificuldade. Essa possibilidade começou a circular no fim de semana após a reunião de autoridades da UE para discutir a crise na região:

- Os europeus não precisam de recursos brasileiros para comprar bônus. Eles possuem um Banco Central, um fundo de estabilização financeira e outros instrumentos. Têm que encontrar soluções dentro da Europa.

A ajuda brasileira, disse, só será concedida por meio de recursos injetados pelo país no Fundo Monetário Internacional.

A presidente Dilma Rousseff voltou a expressar ontem sua preocupação com a crise. Ao lado do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, disse que é preciso adotar medidas que mesclem ajuste fiscal com estímulos ao crescimento econômico:

- A falta de uma ação rápida só levará ao agravamento da crise, com sérias consequências políticas e sociais.