Título: Brasil recebe US$50 bi de investimentos diretos
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 23/10/2011, Economia, p. 27
Com dólar em alta, gasto de turistas no exterior perdeu força e subiu só 12% em setembro, contra 44% na média
BRASÍLIA. A crise internacional teve ao menos um efeito positivo para o Brasil: reduziu a pressão sobre as contas externas. O país é um dos únicos grandes com perspectiva de crescer. Não foi à toa que, em setembro, bateu novo recorde histórico de ingressos de investimento estrangeiro direto (IED): US$50,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano. É o maior volume desde 1947, quando o Banco Central começou a registrar os dados, e mais do que tudo que entrou ao longo de 2010. Em 12 meses, são US$76,3 bilhões. Este tipo de recurso entra no país para financiar o aumento da capacidade produtiva e da infraestrutura.
Enquanto os dados da Unctad mostram uma desaceleração do crescimento dos investimentos no mundo inteiro, a América Latina e o Caribe receberam US$102 bilhões dos US$568 bilhões que circularam no mundo até o terceiro trimestre. E o Brasil atraiu a maior parte.
- Apesar da crise, a gente vai continuar a receber um volume grande de investimento simplesmente porque o mundo não tem alternativa - diz o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.
Segundo o economista, o Brasil tem uma taxa de retorno de investimento muito sedutora na comparação com outros países. As perspectivas são ainda melhores por causa dos eventos esportivos, como Copa do Mundo e Olimpíadas. Além disso, o mercado interno não para de consumir nem durante as maiores turbulências internacionais dos últimos tempos. Isso torna o país - que já é o quinto do mundo no ranking de IED, considerando dados de 2010 (atrás de EUA, China, Hong Kong e Bélgica) - ainda mais atrativo.
Só em setembro, o Brasil recebeu US$6,3 bilhões em investimentos diretos: muito acima da expectativa de US$5 bilhões. E é esse dinheiro que tem dado tranquilidade aos analistas quando olham para o balanço de pagamentos brasileiro. Este é formado pelas contas corrente (operações de troca de bens e serviços) e de capital (investimentos diretos e financeiros). A situação externa é confortável quando há superávit das contas ou quando o fluxo financeiro cobre o saldo corrente negativo.
- Até onde a vista alcança, contas externas não apresentam nenhum problema - garante Freitas.
Nos últimos anos, um dos motivos para o rombo crescente na conta corrente foram sucessivos recordes dos gastos dos turistas brasileiros no exterior. No entanto, assustado pelo aumento de 18% do dólar em setembro, o brasileiro ficou um pouco menos animado. As despesas lá fora, que cresciam numa média de 44% ao mês neste ano, subiram apenas 12% em setembro, quando os viajantes gastaram US$1,2 bilhão. Os primeiros números para outubro mostram que a precaução continua.
- Viagens internacionais são muito sensíveis ao câmbio. Agora, as pessoas estão mais cautelosas ? diz o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Essa queda no ritmo dos desembolsos nas viagens ao exterior e o saldo robusto do comércio exterior fizeram com que as contas externas tivessem em setembro o menor déficit deste ano, de US$2,2 bilhões. O mercado esperava algo na casa de US$3 bilhões.
Também contribuiu para que a projeção não se concretizasse o fato de as empresas brasileiras não terem mandado tanto lucro para o exterior como em agosto. As remessas caíram de US$5 bilhões para quase US$2 bilhões, embora ainda maiores do que em setembro de 2010.
Segundo o BC, os gastos com outros serviços - como os de transportes, aluguel de equipamentos, computação e informações - também não têm mais o mesmo fôlego.