Título: Reencontro com o passado
Autor: Figueiredo, Janaína; Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 28/10/2011, O Mundo, p. 34

Vítimas uruguaias esperam reabrir casos após aprovação do fim da prescrição de crimes da ditadura

Macarena Gelman é uruguaia, mas não sabe por que nasceu em seu país. Os pais, Maria Claudia Garcia e Marcelo Gelman, argentinos, foram sequestrados em Buenos Aires em 24 de agosto de 1976, quando a mãe estava grávida. Já a conterrânea Lilian Celiberti foi sequestrada em 1978, em Porto Alegre, com o marido, Universindo Rodríguez Díaz, e os dois filhos, de 8 e de 3 anos. Levada a seu país natal, ficou cinco anos presa. Essas duas mulheres se tornaram ícones das vítimas da Operação Condor, o plano de ação conjunta das ditaduras do Cone Sul que torturou e matou milhares de pessoas. Agora, elas esperam que a nova lei aprovada pelo Parlamento uruguaio ontem - que declara os crimes da ditadura como delitos de lesa-Humanidade e sem prescrição - abra novas perspectivas para os seus casos.

Macarena, que descobriu ser neta do poeta argentino Juan Gelman, foi deixada recém-nascida na porta da casa de um policial aposentado. Depois de conhecer a verdadeira identidade, iniciou uma batalha na Justiça para julgar e condenar os responsáveis por sua tragédia familiar. Ela afirmou ao GLOBO que os julgamentos na Argentina representam um exemplo e que em sua visita ao Brasil sentiu que "existe vontade de começar a fazer algumas coisas".

No Brasil, o caso de Lilian é emblemático. O sequestro só veio à tona na época porque um jornalista descobriu. A família foi levada ao Uruguai, onde o casal foi preso e torturado, enquanto as crianças foram entregues aos avós. Com a medida uruguaia, Lilian espera processar uruguaios envolvidos. Em 2010, ela reencontrou num tribunal um dos brasileiros suspeitos de participar da operação. O reencontro foi resultado de uma ação movida por ele contra o jornalista. Para ela, o sentimento foi "de indignação".