Título: Para especialistas, escolha mostrou pragmatismo
Autor: Duarte, Alessandra
Fonte: O Globo, 28/10/2011, O País, p. 12
Habilidade política de Aldo para articular posições contrárias foi testada durante a votação do Código Florestal
CAXAMBU, MG. Cientistas políticos presentes ao 35º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), consideraram que a escolha de Aldo Rebelo como novo ministro do Esporte se deveu à força política de seu nome e apontou para uma valorização da face pragmática do antes ideológico PCdoB. Para os cientistas, Dilma também tinha a preocupação de contar com um ministro do Esporte capaz de enfrentar a negociação com a Fifa e a CBF para a Copa do Mundo no Brasil.
A substituição de Orlando Silva por Aldo Rebelo foi vista ainda como uma forma de manter na pasta um nome que é real representante do aliado histórico do PT, e não apenas um filiado ao PCdoB sem maior expressão.
- O Aldo causou aquela estranheza na discussão do Código Florestal ao manter uma posição distante da do governo. Mas é alguém que simboliza o partido de fato e trata-se de um nome que tem força própria, o que faz com que não se dê margem a que digam que é um afilhado político do Orlando Silva - avaliou Luciana Fernandes Veiga, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná.
Para Maria do Socorro Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos, a escolha de alguém que teve uma participação controversa e conservadora no debate sobre o Código Florestal reflete a opção pelo lado pragmático do PCdoB:
- Aldo foi bastante criticado na época da discussão do Código Florestal, mas sua posição ali refletia a mudança de um partido antes ideológico, que está se tornando de centro-esquerda, distanciando-se de grupos com quem tinha ligação forte, como o dos ambientalistas. Então, isso reforça a escolha, pelo governo, de tendências políticas dentro do PCdoB que são mais pragmáticas.
O cientista político Claudio Couto, professor do curso de Administração Pública da FGV-SP, considerou que a manutenção do PCdoB - e a própria escolha de Aldo - já eram previsíveis. A polêmica criada no episódio do Código Florestal, afirmou Couto, teria demonstrado a habilidade política de Aldo de articular posições contrárias.
- Dentro do PCdoB, hoje, não vejo outra pessoa além dele que reunisse características necessárias a ministro de uma pasta que tem agora essa importância. Alguém para preservar o espaço tradicional do partido na coalizão e capaz de enfrentar a CBF e a Fifa. Ele, como presidente da CPI da Nike, enfrentou interesses poderosos ali e tinha de certa forma essas credenciais. Também conta com envergadura suficiente para impor custos ao próprio partido na hora de fazer a faxina no ministério - analisou Couto.
Manter o PCdoB no comando da pasta evita um custo maior para a governabilidade, segundo Luciana Veiga:
- Se o governo passa a ter de redistribuir poder para outros partidos, aumentaria o atrito; prolongaria a negociação de algo que já não está bom.