Título: Falha no site do IBGE faz vazar IPCA de 0,43%
Autor: Bôas, Bruno Villas; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 11/11/2011, Economia, p. 29

Dado seria publicado apenas hoje pelo instituto. Inflação desacelerou no mês, mas segue acima do teto da meta

Uma falha no sistema de publicação do site do IBGE vazou ontem para usuários um dos indicadores mais valiosos da economia brasileira: a inflação oficial do país. O dado que seria divulgado oficialmente hoje, às 9h, na sede da instituição, no Rio, acabou acessado por usuários. Com o vazamento, o IBGE emitiu uma nota na noite de ontem informando o erro e antecipando que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,43% em outubro, desacelerando em relação à taxa de 0,53% de setembro.

Também vazaram os resultados do Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que subiu 0,38% em outubro, e do emprego industrial, que recuou 0,4% em setembro. O IBGE disse que vai explicar o vazamento hoje, durante a divulgação dos detalhes do IPCA.

Mesmo com a desaceleração da inflação em outubro, o IPCA segue acima do teto da meta do governo, de 6,5% neste ano. A taxa ficou em 6,97% nos 12 meses encerrados em outubro, abaixo do acumulado de 7,31% até setembro. No ano, o índice passou de 4,97% em setembro para 5,43% no mês passado. Essas taxas acumuladas foram calculados por economistas. Ao antecipar o resultado ontem, o IBGE não informou os acumulados e não abriu variações por grupos, como serviços e alimentos.

Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o grupo alimentos e bebidas provavelmente foi responsável pela desaceleração da inflação. Ele acha possível que o índice oficial de inflação fique dentro do teto da meta. Quando o IPCA de setembro foi divulgado, analistas previram que seria necessário o índice registrar, em média, 0,48% nos últimos três meses do ano para não romper o nível máximo da meta.

- A queda nos alimentos já estava indicada nos índices de preços no atacado.

Romão lembrou que os preços dos serviços tendem a reagir mais demoradamente aos movimentos da atividade econômica. O grupo de serviços tem sido o grande vilão da inflação pelo IPCA, ficando acima de 9% no acumulado de 12 meses até setembro. Na projeção de Romão, o grupo encerra o ano na casa de 9,1% e só dará refresco em 2012.

Vazamento não afetou mercado de juros futuros

Segundo operadores, a divulgação do vazamento foi uma surpresa. Eles afirmam que não houve rumores de que alguém teria operado com a informação, considerada extremamente valiosa no mercado. O IBGE não informou a que horas os dados vazaram para o público, portanto, não foi possível saber se foi antes do fechamento do mercado.

Luiz Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, disse que os números vieram dentro das expectativas e, portanto, não afetariam as negociações com contratos de juros no mercado futuro.

- O vazamento de informações como essas mostra um erro grave e desagradável. Mas pelo menos o IBGE tornou público o seu erro e equalizou a situação - explica Leal.

Ontem, os contratos de juros futuros passaram por uma correção e fecharam em alta nos principais vencimentos. As taxas dos contratos de DI para janeiro de 2012, os mais negociados, avançaram de 11,005% para 11,030%. Os agentes embutem nesses contratos três cortes de 0,5 ponto percentual da taxa Selic pelo Banco Central (BC) nas reuniões de dezembro, janeiro e março.

Mesmo com a inflação beirando o teto da meta, a LCA vê espaço para mais cortes na Selic. Isso porque a previsão de crescimento da economia vem sendo reduzida há pelo menos dois meses e pode ficar abaixo de 3% este ano.