Título: Enquanto isso na Bacia de Campos... óleo vaza
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 11/11/2011, Economia, p. 26

Para Minc, acidente da petrolífera Chevron mostra necessidade de estados produtores terem fatia maior de royalties

Danielle Nogueira, Ramona Ordoñez e Aloysio Balbi

RIO e CAMPOS. Na véspera da passeata contra a redistribuição dos royalties do petróleo, um vazamento no litoral fluminense evidenciou a importância de dar prioridade a estados e municípios produtores na divisão da compensação financeira pela exploração petrolífera. O vazamento, detectado na noite de quarta-feira, ocorreu nas proximidades do campo de Frade, na Bacia de Campos, a 370 quilômetros nordeste da costa do Rio de Janeiro. O campo é operado pela americana Chevron, que estimou o volume da mancha de óleo em cerca de 60 barris de petróleo. A causa do incidente ainda é desconhecida.

O secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, que participou ontem da passeata no Centro do Rio, disse que, a princípio, o vazamento não é grave, mas revela os riscos desse tipo de atividade e a necessidade de o Rio manter uma fatia maior na distribuição de royalties.

- Este evento mostra que, mesmo com toda a nova tecnologia de segurança, não existe risco zero. O Estado do Rio de Janeiro, assim com os outros estados produtores, têm que obter recursos suficientes dos royalties para se preparar adequadamente para eventuais acidentes que possam afetar nossa costa - disse Minc. - Se o vazamento chegasse à costa, poderia prejudicar regiões do litoral de Campos, Macaé, Rio das Ostras e Búzios, atingindo, por exemplo, importantes zonas turísticas. Mas não afetaria em nada regiões de estados como Mato Grosso, Rondônia e Piauí.

O secretário informou ainda que falou, por telefone, com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, assegurando a cooperação de equipes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e do Ibama. Disse ainda que, em razão do acidente, pediu à ministra que torne os licenciamentos ambientais mais rigorosos. De acordo com ele, a mancha de óleo pode ser vista na superfície do mar em sobrevoos de helicópteros. Até o início da tarde, a informação que havia sido passada a Minc era de que o vazamento ainda não tinha sido contido e que seguia ao ritmo de um barril (cerca de 80 litros) por hora.

ANP investigará causa do vazamento

À noite, a Chevron divulgou nota confirmando que o vazamento ainda não havia sido interrompido e que uma inspeção realizada nas instalações do campo mostrara que as atividades de produção de petróleo não estão relacionados com a mancha. Por isso, a produção de óleo foi mantida. Ainda segundo a Chevron, dados fornecidos por um veículo submarino operado à distância, identificaram que "a fonte da mancha é o óleo proveniente de uma falha na superfície do fundo do mar".

Em geral, mesmo após um poço entrar em produção, as petrolíferas mantêm as atividades de perfuração no entorno, na tentativa de encontrar petróleo. A Chevron não soube responder, no entanto, se o vazamento tem relação direta com a perfuração de poços vizinhos ao que já está produzindo. Ainda assim, como medida de precaução, a empresa suspendeu temporariamente as atividades de perfuração no Frade e disse que "as investigações sobre as causas da mancha continuam". A Agência Nacional do Petróleo (ANP) também informou que investigará o incidente, e o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro), que está acompanhando os desdobramentos.

A Chevron é a empresa majoritária no consórcio que atua no Frade, com 51,7% da sociedade. Os demais sócios são Petrobras (30%) e a japonesa Frade Japão (18,3%). Segundo informações que constam do site da empresa americana, a produção diária média no Frade em 2010 foi de 50 mil barris. A companhia atua em ao menos dois outros blocos exploratórios na Bacia de Campos: Papa-Terra e Maromba, nos quais é minoritária. Ambos ainda estão em fase de desenvolvimento de produção.