Título: Manifestação em clima de diversidade social
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 11/11/2011, Economia, p. 25
Cinelândia só não virou a praça do povo, porque grades delimitavam a área vip. Para entrar, só com pulseira
Mascarados, caras pintadas de azul e branco - as cores da bandeira do Rio - homens de terno e gravata, performáticos, políticos, empresários, servidores públicos, jovens indignados usando nariz de palhaço e outros de perucas multicoloridas. Sob um sol escaldante e uma miscelânea musical que ia do samba ao funk, a megamobilização em defesa das receitas dos royalties do petróleo transformou o centro do Rio na capital da diversidade.
Nenhum discurso político e muita música deu o tom da manifestação "Contra a injustiça - em defesa do Rio", que começou, no início da tarde de ontem, com uma concentração nas proximidades da Candelária, e terminou num showmício na Cinelândia. O tom de diversidade social que marcou o protesto só não transformou a Cinelândia na praça do povo, porque grades de proteção delimitavam a entrada de privilegiados. Para ser vip, tinha ser dono de uma pulseira verde.
Manifestantes tentaram derrubar as grades
O ex-técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira, era um dos que tinha pulseira vip. Mas foi preciso se desvencilhar de um empurra-empurra para ser vip na prática. A confusão foi grande. Populares tentaram derrubar as grades. Seguranças agiram com rapidez. Em minutos, a confusão foi desfeita. Mas quem estava no meio dela na hora H, sentiu a pressão popular ...
- O empurra-empurra me lembrou o jogo do Brasil e Paraguai, no Maracanã em 1979. Tinha muita confusão também - relembrou Parreira, comentando que, na época, passou a experiência como torcedor. - Eu era um dos 180 mil torcedores.
Entre os 150 mil manifestantes teve espaço até para pais de santo, como pai Uzêda, que, empunhando uma folha de guiné, estava lá para benzer o Rio e abrir os caminhos do governador Sérgio Cabral.
- Já depositei minhas ervas nas proximidades da casa do governador, no Leblon, e no Palácio Guanabara. Fui até a Brasília e fiz um despacho no Planalto para abrir os olhos da presidente Dilma.
Procuradores de terno e "indignados" mascarados
O aposentado Gilson Carvalho, que trabalhou 26 anos na área de mercado aberto do Banco Central, cobriu-se com a bandeira do Brasil para mostrar o tamanho da sua indignação:
- Vim para cá para defender o Rio. Se tungarem o estado é a prova de que a Constituição foi rasgada.
O protesto de Carvalho tinha respaldo da Justiça. Além de Márcia Trindade, servidora pública, cerca de 60 procuradores da Procuradoria Geral do Estado saíram em bloco pelas ruas da cidade:
- É um atitude de consciência, não no sentido regionalista. Mas para preservar uma receita que já é patrimônio do estado. A medida é inconstitucional - defendeu o procurador Ricardo Pontes.
Até os indignados do Ocupe Cinelândia, que estão acampados na praça, aderiram à manifestação. Mas foi uma adesão parcial. "As pessoas não bebem petróleo" era uma das palavras de ordem do grupo, que, com máscaras, nariz de palhaço e buquês de flores deitaram no chão, em frente à Biblioteca Nacional, para impedir que os carros de som passassem. O protesto acabou sendo abortado, porque alguns dos próprios indignados acharam melhor não brigar com os caminhões, deixando-os passar.