Título: Pasta de Lupi vaza apuração de jornalistas
Autor: Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 11/11/2011, O País, p. 3

ANJ repudia "propósito de constranger o livre exercício do jornalismo"

BRASÍLIA. A exemplo do que fez a Petrobras em 2009, o Ministério do Trabalho está usando seu blog para responder a perguntas feitas por jornalistas e, assim, divulgar para toda a imprensa o que cada veículo está apurando. A prática começou na quarta-feira, em meio ao escândalo que atinge a pasta e o ministro Carlos Lupi em torno de supostos desvios em convênios com ONGs. A justificativa do ministério é a mesma usada pela Petrobras: mais transparência. Na prática, revela a apuração dos jornalistas antes de os jornais concluírem as reportagens e publicarem as informações.

Em 2009, o blog da Petrobras, ao adotar essa estratégia, causou polêmica. A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) classificara a medida como uma "inaceitável quebra da confidencialidade" e uma tentativa de intimidar os jornalistas que pediam informações sobre indícios de irregularidades nos negócios da estatal.

Agora, o Ministério do Trabalho diz, em seu site e no próprio blog, que "todas as demandas encaminhadas à assessoria de comunicação social serão disponibilizadas no Blog do Trabalho (http://blog.mte.gov.br), devidamente respondidas", e que "esta medida, decidida pelo ministro Carlos Lupi, tem o objetivo de levar mais transparência aos questionamentos feitos pela imprensa, e que muitas vezes sequer levam em considerações as respostas do MTE".

Desde então, o blog teve cinco postagens, das quais quatro são respostas a meios de comunicação. A Rádio CBN e os jornais "O GLOBO", "Correio Braziliense", "O Estado de S. Paulo" e "Folha de S.Paulo" tiveram expostos os pedidos de informação enviados à pasta. As perguntas aparecem em preto e as respostas, grafadas em vermelho. Nos quatro casos, as perguntas abordam possíveis irregularidades, a maioria relacionada a convênios com entidades privadas.

A ANJ criticou a decisão do ministério de divulgar em seu blog as perguntas feitas por jornalistas, antes da publicação das reportagens. Em nota, a associação diz que "repudia com veemência" a iniciativa da pasta, tachando-a como lamentável. Informa ainda esperar que a posição seja revista.

"É evidente o propósito do ministério de constranger o livre exercício do jornalismo, tornando público o conteúdo do trabalho que é feito de forma individual e exclusiva pelos repórteres, em sua permanente busca de produzir informação de qualidade e de interesse para os cidadãos", diz trecho do texto.