Título: Reforço de peso no PV
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2009, Política, p. 5

Marina Silva se emociona ao comentar saída do PT e afirma que decisão de se candidatar ao Palácio do Planalto só será tomada no próximo ano, apesar do apelo de correligionários

São Paulo ¿ Sob fortes aplausos de uma plateia de quase mil pessoas, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (AC) assinou ontem o documento de filiação ao Partido Verde (PV), em São Paulo. ¿É um processo doloroso e comovente. Mas foi a melhor opção¿, disse, emocionada, referindo-se a sua saída do PT, partido em que militava havia 30 anos.

Ao passar pela entrada da casa de recepção no bairro de Pinheiros, Marina ouviu gritos em coro de ¿Brasil urgente, Marina presidente¿. Ficou emocionada, mas disse aos correligionários do PV que ainda não é candidata. ¿Não vamos pôr a carroça na frente dos bois¿, desconversou. E completou: ¿Obviamente, me sinto honrada com o convite e a forma com que a sociedade recebe a indicação de uma eventual candidatura. Mas essa é uma decisão que vamos tomar só no ano que vem¿, ressaltou.

A pré-candidata fez um rápido balanço da sua trajetória no PT. Disse que sofreu constrangimento pelos erros de poucos e que foi difícil optar pela saída do partido. Também agradeceu, sem citar nomes, aos políticos do PT que imploraram para que ela não abandonasse a legenda.

Sarney A pessoas próximas, Marina disse que pensou bastante antes de se filiar ao PV, especialmente devido a políticos ligados ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que estão na legenda. Um deles é José Sarney Filho (PV-MA), líder do partido na Câmara. O parlamentar tentou evitar polêmicas, e disse que, com a entrada de Marina no partido, já é possível sentir o efeito da candidatura dela em todo o país. ¿Com certeza, é o nome mais apropriado¿, afirmou Sarney Filho.

Marina Silva conseguiu arrastar celebridades de peso para a cerimônia. Os atores Victor Fasano e Cristiane Torloni compareceram para prestigiar a futura candidata. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) era um dos mais entusiasmados. ¿Ela é a luz que ilumina o nosso partido e que o manterá aceso.¿

Embate com Dilma à vista

Durante a cerimônia de filiação ao PV, a senadora Marina Silva não se recusou a falar da possibilidade de concorrer à Presidência da República com a ex-companheira Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil. E admitiu que teve impasses com a mulher forte do governo petista. Um dos maiores embates ocorreu porque a Casa Civil fez pressão para licenciar as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira. Marina reclamava que era preciso mais tempo para avaliar os impactos ambientais e acabou ¿amarrando¿ as licenças que liberavam as obras no Ministério do Meio Ambiente. ¿Nunca fui contra essas hidrelétricas. O problema é que bastava a gente fazer uma objeção que já diziam que éramos contra¿, ressaltou a ex-ministra.

Na verdade, Marina se opôs às obras, irritando Dilma Rousseff, porque defendia a elaboração de um estudo no rio para avaliar o problema do mercúrio e da malária junto às populações locais. ¿Mas não vou fazer um discurso que transforme a ministra Dilma em vilã¿, afirmou.

Com a possível candidatura de Marina Silva ao Palácio do Planalto, o PT passou a ter a preocupação que Dilma poderá perder votos para a concorrente. ¿Se o PV conseguir bancar uma boa equipe de marketing, Marina será mais vendável do que Dilma¿, avalia o marketeiro político Francisco Cavalcante.

Assim como Dilma ¿ que luta contra um linfoma ¿, Marina é uma candidata que desperta preocupação por conta do histórico de doenças. A nova estrela do PV já teve seis malárias, três hepatites, leishmaniose e ainda enfrenta problemas sérios por ter sido exposta ao mercúrio. Ela sofre de uma doença chamada mal de Minamata, que causa dores nas articulações, tonturas, desmaios, tremores, insuficiência renal e queda de pelos. Esses sintomas podem levar à morte, dependendo do grau de contaminação. ¿Nada disso me assusta. Tenho forças para enfrentar uma campanha. Já fui desenganada pelos médicos quatro vezes e estou aqui¿, disse. (UC)