Título: Situação da Itália preocupa Mantega
Autor: Oliveira, Eliane; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 09/11/2011, Economia, p. 26

Ministro da Fazenda diz que europeus "estão deixando a coisa degringolar"

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, demonstrou preocupação ontem em relação à piora da situação econômica na Itália. Mantega confirmou que o Brasil e os demais países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estudam formas de fortalecer o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que a instituição possa ajudar não apenas a Europa, mas também os emergentes. No entanto, afirmou que não se falou em cifras até o momento, devido à incompetência dos europeus que, segundo ele, "estão deixando a coisa degringolar".

- O Brasil estava disposto a fortalecer o FMI, juntamente com outros países, inclusive os Brics. Porém isso dependia, em primeiro lugar, de que os europeus cumprissem as tarefas que precisavam fazer, como utilizar mais o Banco Central Europeu e resolver o problema da Grécia. Nada foi concretizado e, em função disso, não foi feita proposta concreta (...) Isso não quer dizer que no futuro isso não poderá acontecer - disse.

Mantega criticou os europeus que "têm lá seus problemas políticos para resolver":

- Eu diria que ela (a crise) fica um pouco pior. Talvez se resolva o problema da Grécia, mas apareceu o problema da Itália, que é ainda maior, embora eu ache que a Itália é um país mais sólido. Mas o mercado funciona em cima da expectativa e da desconfiança. Nós pressionamos bastante os europeus lá (na reunião do G-20), assim como os EUA e os Brics - ressaltou. - (Os europeus) Continuam trabalhando tardiamente, continuam atrasados em relação às necessidades. Estão deixando a coisa degringolar.

Mantega frisou que, no caso do Brasil, não está havendo fuga de capitais. Para o ministro, isso está acontecendo com países emergentes que não têm reservas internacionais em níveis elevados e, por isso, enfrentam fragilidade cambial maior.

- Mas temos que nos preocupar com isso, porque se os emergentes forem atingidos, a situação internacional vai ficar pior - observou.

Já o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, demonstrou ontem mais tranquilidade. Em seminário internacional sobre efeitos futuros da turbulência global, ele disse que a crise - embora tenda a ser longa e a conduzir o mundo a um período de baixo crescimento - não tira as perspectivas para a economia brasileira, que são favoráveis para as próximas décadas.

Segundo Awazu Pereira, o Brasil vive um excelente momento na história econômica e reúne condições para crescer de forma sustentável:

- E o governo está plenamente empenhado com políticas públicas para que este cenário se concretize e se traduza em benefícios efetivos para toda a sociedade. Temos perspectivas excelentes. E temos tido sucesso, inclusive favorecendo a inclusão social.

Awazu Pereira defendeu as medidas adotadas pelo governo contra a crise e as classificou como "adequadas". Disse que a "relativa" tranquilidade com que o país atravessa as turbulências reflete justamente a capacidade de reação rápida.