Título: Sobrevivência
Autor: Maniero, Valéria
Fonte: O Globo, 09/11/2011, Economia, p. 24

Eleita como a próxima vítima na crise da zona do euro, a Itália permaneceu ontem como centro das atenções, mas o dia acabou com a reação positiva dos mercados às notícias da saída de Silvio Berlusconi do cargo. O premier perdeu a maioria na Câmara e prometeu renunciar após a aprovação das reformas impostas pela União Europeia. As bolsas subiram e o país recuperou o fôlego, mas a saída de Berlusconi não resolve o problema da Itália.

A renúncia deve acalmar os mercados e reduzir as pressões sobre o país. A expectativa de um novo comandante com mais apoio política e liderança ajuda no enfrentamento dos sérios problemas econômicos. Assim como na Grécia, dá sustentação e legitimidade para o governo aplicar o remédio amargo do ajuste. Mas a grave crise na zona do euro não se resolve com o ataque isolado aos problemas da Itália ou da Grécia. Exige uma solução holística e solidária.

O economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Consultoria Tendências, destaca que o euro não é apenas uma moeda única. É um projeto político de unificação que começou logo após a Segunda Guerra, e essa conquista tem de ser preservada. Ele está convicto de que é melhor para o bloco enfrentar o custo de preservação do euro do que correr o risco da desintegração.

Mas destaca que os países mais ricos, em especial a Alemanha, precisam assumir uma postura mais solidária olhando para o conjunto e não para o próprio umbigo, pensando mais no bloco ao defender posições e posturas para a solução da crise e menos nos seus eleitores.

Mailson lembra que a Alemanha é o país que mais se beneficiou com o euro, ampliando suas exportações e suas riquezas graças às vantagens da integração e da moeda única. Ele não vê sentido na resistência de Angela Merkel à atuação do Banco Central Europeu no socorro aos países em dificuldade. Acredita que a saída da crise depende de uma ação forte do BCE e não do FMI ou dos países emergentes, que teriam papel de coadjuvantes:

- O momento é muito delicado. O que está em jogo é de tal relevância que é muito difícil imaginar que os europeus vão se imolar por falta de ação. O que vai prevalecer é o instinto de sobrevivência.