Título: Lupi desafia Dilma: Só saio à bala
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 09/11/2011, O País, p. 3

E ainda avisa que, se cair, PDT rompe com governo; pedetistas pedem inquérito

LUPI PARTICIPA de encontro com a bancada pedetista: "Duvido que a Dilma me tire! Ela me conhece bem. Alguns de vocês vão ficar muito tristes com o resultado desse episódio!"

DEPUTADO REGUFFE chega para reunião com o ministro Carlos Lupi: assinatura do pedido de abertura de inquérito na PGR

Maria Lima, Roberto Maltchik e Gerson Camarotti opais@oglobo.com.br

No mesmo dia em que o deputado federal Miro Teixeira (RJ), apoiado por mais um deputado e um senador do PDT, protocolou na Procuradoria Geral da República um pedido de abertura de inquérito criminal para apurar denúncias de corrupção ativa e concussão na gestão de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho, o ministro se reuniu por três horas com o partido e saiu com uma declaração de apoio da maioria para ficar no cargo. Lupi e o comando do PDT decidiram desafiar a presidente Dilma Rousseff e ainda avisaram que, em caso de demissão, o partido deixa o governo.

Em vários momentos numa entrevista após a reunião, escudado pelo apoio da cúpula do PDT que também ameaçou romper com o governo, o ministro desafiou Dilma a demiti-lo:

- Duvido que a Dilma me tire! Ela me conhece bem. Alguns de vocês vão ficar muito tristes com o resultado desse episódio! - disse aos jornalistas. - Para desconforto de vocês, vão ter que me ver aqui no ano que vem, em 2013 , em 2014... Pela relação que tenho com a Dilma, não saio nem na reforma (ministerial, prevista para janeiro). Eu me benzo todos os dias, meu amor! Tenho o santo forte. Ainda vou carregar o caixão de muita gente que quer me enterrar - disse.

Ainda após a reunião, com declarações que beiraram o deboche, Lupi avisou que só deixa o ministério "abatido à bala". O estilo "faca no peito da presidente" adotado por ele surpreendeu aliados do governo. Mas sobre isso o Palácio do Planalto fez silêncio. Pelo menos em público.

- Houve alguns que defenderam que eu me licenciasse. É a opinião deles, com a qual não concordo. Para me tirar do ministério, só se eu for abatido à bala! E tem que ser uma bala muito forte porque eu sou pesadão! - disse Lupi, sempre rindo de suas próprias declarações. - Nem saio e nem me licencio. Se quiserem me sangrar terão de fazê-lo até o fim, e depois chupar meu sangue de canudinho.

Tensão na reunião com pedetistas

Foi tensa e exaltada a reunião do ministro com a executiva nacional e as bancadas do PDT no Congresso. Coube ao senador Cristovam Buarque (DF) defender a licença de 30 dias, até a conclusão das investigações. Só teve o apoio declarado do deputado Antonio Reguffe (DF), que assinou, juntamente com Miro e Pedro Taques (MT), o pedido de inquérito na PGR.

- Eu sugeri que ele se licenciasse por 30 dias, para que se diferenciasse dos demais ministros atingidos por denúncias de corrupção na pasta. Mas ele e o partido recusaram peremptoriamente - contou Cristovam.

Miro Teixeira não foi à reunião porque estava sendo medicado de um problema no joelho. Sua petição à PGR cita matérias veiculadas pelo O GLOBO, "Veja" e "Portal IG" sobre desvios no ministério de Lupi: "Não bastassem os fatos denunciados pela imprensa idônea, como lhe é de dever, pelo direito do povo à informação verdadeira, o acórdão do TCU exige instauração de inquérito policial, denúncia dos responsáveis por práticas criminosas, como proposta de processo crime".

- Agora se seguem os caminhos institucionais. Na vida pública nada é pessoal - disse Miro, justificando a decisão.

Lupi nega que haja um racha no partido, apenas divergências. Parlamentares avaliam que ele tem a solidariedade de cerca de 80% do PDT. Ignorando os pedidos de licença e de investigação à PGR, o ministro disse que é alvo de uma campanha cujo alvo principal é o PDT. Mas afirmou que não teme nada, que está tranquilo, que vai até o último minuto de sua vida para provar inocência, e que não aceita que joguem na lama o nome da instituição que ajudou a fundar.

Depois da reunião, os líderes do PDT na Câmara e Senado fizeram declarações de apoio a Lupi, com o mesmo tom de ameaça.

- Esse episódio uniu ainda mais o partido. Com o ministro Lupi sai também, se necessário, o PDT do governo. O partido não aceita a queda do ministro por corrupção ou pressão - disse o líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA).

O líder do PDT no Senado, Acir Gurgacz (RO), reforçou:

- A ideia nossa é que Lupi não tem substituto. Se ele sair, estamos fora da base e do governo - disse Gurgacz, ressaltando, entretanto, que ele e outros companheiros do partido são contra essa decisão.

Na entrevista após a reunião do PDT, Lupi relatou conversa que disse ter tido com Dilma na véspera:

- A Dilma me perguntou: "Você vai lutar até o fim?" Eu respondi: Vou lutar até o último minuto. Sou brasileiro e não desisto nunca. Ela, então, me disse: "Vá em frente". Eu sou forjado na luta. Não saio do ministério enquanto não estiver tudo comprovado.

Ele ressaltou que, diferentemente de outros escândalos que derrubaram ministros, no caso do Trabalho não há uma prova, uma foto ou filme que prove sua implicação nas denúncias.

Mesmo com apoio da maioria do partido, a situação do ministro no Planalto ainda é considerada indefinida. Nas palavras de um interlocutor direto da presidente Dilma, ontem: "Se o Orlando Silva (ex-ministro do Esporte) perdeu sustentação, mesmo com apoio integral do PCdoB, o Lupi pode ficar numa situação ainda mais frágil sem a unidade do PDT". Como não há até o momento nada que atinja diretamente o ministro, a ordem no núcleo do governo é acompanhar o desenrolar dos fatos.

De segunda-feira para ontem, Lupi fez um trabalho intenso nos bastidores para obter a declaração de apoio do partido, telefonando pessoalmente para vários colegas.

- Lupi não recebeu um cheque em branco. O que houve foi um voto de confiança ao ministro. Mas se as denúncias atingirem o ministro, ele terá que deixar o governo. Tenho minhas divergências com ele. Mas se o Lupi sai agora, sai com o carimbo de ministro corrupto e mancha a imagem de todo o PDT - disse o deputado Brizola Neto (RJ). - Não estamos no governo por um ministério. Participamos do governo pela profunda identidade com as ações do ex-presidente Lula e da presidente Dilma - acrescentou.

COLABOROU: Adriana Vasconcelos