Título: Crack atinge 4 mil cidades do Brasil
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 08/11/2011, O País, p. 12

Consumo da droga se alastra, acarretando problemas de saúde e segurança

BRASÍLIA. Pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que há consumo de crack em 4.018 cidades do país. O número corresponde a 90,7% dos 4.430 municípios consultados. O mesmo estudo revela alto consumo de crack em pelo menos 1.078 cidades - ou 24,3% das pesquisadas. Em outros 1.805 municípios o consumo da droga é médio e em 1.135, baixo.

De acordo com os números, os níveis de consumo do crack aproximam-se dos patamares alcançados por outras drogas. Juntas, elas apresentam alto consumo em 1.110 cidades - o correspondente a 25% do total pesquisado. As outras drogas estão presentes em pelo menos 4.098 municípios brasileiros - 92,5% das consultadas.

Das cidades analisadas, 63,7% enfrentam problemas na área da saúde em decorrência do consumo de crack, como antecipou O GLOBO no sábado. A fragilidade da rede de atenção básica aos usuários, a falta de leitos para a internação, o espaço físico inadequado, a carência de remédios e a falta de profissionais capacitados para lidar com dependência química são os principais entraves apontados.

Policiamento é falho nas áreas vulneráveis

Em 58,5% dos municípios, o crack gera crise na segurança. Nesses locais, há aumento de furtos, roubos, violência, assassinatos e vandalismo. Também há relatos de falta de policiamento em áreas vulneráveis. Em 44,6% das cidades consultadas, o problema maior é na assistência social.

Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, um dos grandes responsáveis pelo alastramento do crack é a falta de controle nas fronteiras do país:

- O efetivo policial é pequeno, mal remunerado e pouco treinado para enfrentar a dinâmica do tráfico de drogas.

Ele também aponta a falta de fiscalização química na venda de matérias primas para a produção da droga.

- A grande questão é a fiscalização da venda desses produtos, que atualmente é feita de maneira insuficiente - afirmou Ziulkoski.

O presidente da CNM cobrou da União e dos governos estaduais uma política eficaz de enfrentamento da droga.

- Não há fonte de financiamento e não há discussão - reclamou. - Faltam vontade política e dinheiro.

Segundo o CNM, dos R$124 milhões destinados no Orçamento da União de 2010 para combater o crack, apenas R$5 milhões foram gastos. A entidade informou que, neste ano, a União destinou R$33 milhões ao enfrentamento da droga. Até agora, apenas R$4,7 milhões teriam sido gastos. Ziulkoski também criticou o orçamento dos estados. Neste ano, teriam sido destinados ao combate do crack R$23 milhões, dos quais R$10 milhões seriam só para o Rio Grande do Sul.

Segundo o estudo, apenas 548 cidades contam com um Conselho Municipal Antidrogas. Há Centros de Referência de Assistência Social (Cras) em 1.371 cidades e Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas) em 417. Os dados da pesquisa foram enviados pelas secretarias de Saúde dos municípios.

Ziulkoski informou que, até abril, a CNM vai divulgar a segunda etapa da pesquisa, com o número de usuários de crack no Brasil. O presidente da entidade informou que, em levantamento parcial, já foram identificados 70 mil usuários, dos quais 18 mil estão sob tratamento.