Título: UE sobreviverá
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 06/11/2011, Economia, p. 29

RUBENS RICUPERO

Para o diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, que hoje dirige a Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), a UE vai sobreviver ao "susto grego" e o euro não será abandonado.

A crise grega põe a União Europeia em xeque?

RUBENS RICUPERO: Acredito que a União Europeia sobreviverá ao susto grego. Uma vez equacionada a questão, a Europa vai tocar seu programa de recapitalização de bancos e fortalecer o fundo europeu, o que vai amenizar os efeitos nos demais países.

Quais as implicações econômicas da crise para a Europa?

RICUPERO: O euro sai enfraquecido, mas não será abandonado. O núcleo forte da zona do euro (França e Alemanha) está resistindo bem. O que deve acontecer é a desvalorização do euro. Isso, por um lado, vai ajudar o bloco a se recuperar, pois facilitará as exportações (com a desvalorização da moeda, produtos europeus ficam mais baratos). Ainda assim, acredito que veremos baixo crescimento na Europa pelo menos nos próximos dois anos.

E as implicações políticas?

RICUPERO: Quem perde é quem está no poder. Essa regra se aplica a qualquer crise. E não interessa se os partidos são de esquerda ou de direita ou se os países estão do centro ou na periferia da Europa. Os governos nacionais se desgastaram e, se ainda não caíram, devem cair em breve. Na Irlanda e em Portugal, já houve troca de comando. Na Espanha, o Partido Popular (oposição) deve derrotar o Partido Socialista (situação) nas próximas eleições (haverá eleições legislativas em 20 de novembro). Na França, o Partido Socialista deve ser vitorioso nas urnas no ano que vem, pois as pesquisas mostram que a popularidade do atual presidente (Nicolas) Sarkozy está baixa.

A União Europeia terá de passar por uma reforma?

RICUPERO: Não neste momento. A pressão da crise é muito grande. Mas, no futuro, é possível que se exija uma maior disciplina fiscal.

Qual a principal lição que a Europa pode tirar da crise?

RICUPERO: A de que é muito difícil promover uma união monetária sem uma união política de fato. Para se ter uma moeda comum, é preciso unificação política. Será necessário unir a política fiscal e, para isso, os Estados terão de abrir mão do que resta de sua soberania. Será necessário um órgão central que defina os orçamentos de cada país. (Danielle Nogueira)