Título: Lula tentou adiar exames para o ano que vem
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 06/11/2011, O País, p. 11
Ex-presidente usava pastilha contra rouquidão há dois meses, mas temia o diagnóstico de câncer na garganta
SÃO PAULO. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda enfrentará, nas próximas semanas, alguns dos efeitos mais duros da quimioterapia. Com a combinação de medicamentos, cabelo, barba e bigode devem cair em até 15 dias. O ex-presidente pode também perder o paladar devido ao tratamento do câncer de laringe. São efeitos transitórios e comuns a quem tem esse tipo de doença, que acabam impressionando mais os que acompanham o caso que os próprios pacientes.
Quando contou a seu médico particular, Roberto Kalil, na semana retrasada, que estava com problemas na garganta, Lula recusou-se a fazer exames. Temia que o diagnóstico fosse o mesmo de seu irmão mais velho, o metalúrgico aposentado Jaime Inácio da Silva, diagnosticado com câncer na garganta cinco anos atrás. Jaime está curado, mas a família acompanhou seu sofrimento durante quatro sessões de quimio e 36 de radioterapia.
A combinação dos remédios de Lula (Docetaxel, Cisplatina e 5-Fluorouracil) é mais potente do que a usada no tratamento de Jaime. A expectativa dos médicos é que o tratamento consiga eliminar, em pouco menos de quatro meses, o tumor de 3cm localizado na parte superior da glote. Durante o tratamento, além de perder o paladar, Lula poderá ter crises de rouquidão provocadas por edemas que se formam perto do tumor. Mas a aposta dos oncologistas é que a voz de Lula, ao final do tratamento, não será afetada.
O ex-presidente queria adiar para janeiro os exames que identificaram o câncer. Para os médicos, se isso tivesse ocorrido, a situação de Lula seria "catastrófica". No dia de seu aniversário, 27 de outubro, ele contou a Kalil que estava usando pastilhas para combater a rouquidão fazia dois meses. O médico pediu que ele fosse ao Hospital Sírio-Libanês, onde é diretor de Cardiologia, para um check-up. Mas Lula respondeu que os médicos iriam acabar encontrando "um câncer como o do Jaime".
No dia seguinte, Lula foi atendido pelo otorrinolaringologista Rubens de Brito Neto. Foi com um exame simples, uma laringoscopia, que o médico notou o tumor. Tão logo soube do diagnóstico, o ex-presidente perguntou: "Foi o cigarro, né?" Lula fumou por cerca de 50 anos. Conta que deixou de fumar em janeiro do ano passado, quando levou um susto com uma crise hipertensiva. Segundo o médico Luiz Paulo Kowalski, um ex-fumante leva 15 anos para ficar com a garganta de um não fumante. No caso do ex-presidente, os médicos acreditam que o fumo foi a principal causa da doença.
Segundo os médicos, Lula aceitou imediatamente o tratamento, uma combinação de três ciclos de quimioterapia com a radioterapia. Eles ofereceram levá-lo ao exterior, a pelo menos dois centros de excelência mundial de tratamento do câncer, em Houston, no Texas, e em Nova York. Lula recusou.
O ex-presidente já usava os serviços do Sírio-Libanês há anos, assim como sua família. Segundo os médicos e sua assessoria, Lula conta com a cobertura de um plano de saúde. A consulta com cada um dos cinco especialistas, todos com cargo de direção em hospitais, custa entre R$600 e R$800.