Título: Governo reduz previsão de crescimento
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 05/11/2011, Economia, p. 34

Expansão deve cair de 4,5% para 3,8%, mas arrecadação ficará como está

BRASÍLIA. O governo federal mudará ainda este mês a sua previsão oficial de crescimento de 4,5% para algo entre 3,8% e 4%. O número em vigor é contestado pela maioria dos analistas do mercado financeiro e dentro da própria equipe econômica. Até o Banco Central (BC) mudou sua expectativa de crescimento para 3,5% neste ano.

Mesmo com projeções menores, a previsão de arrecadação não deve ser revista drasticamente. Sem poder contar com um crescimento vigoroso para manter a arrecadação, o governo conta com o aumento de preços, o crescimento da massa salarial, a expansão do crédito, os créditos extraordinários conseguidos em decisões judiciais, a alta do preço do petróleo, a majoração do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a lucratividade das empresas maior que a prevista e até com o Refis da crise, programa de refinanciamento de dívidas tributárias para empresas afetadas pela crise de 2008.

- Não creio que vai ter problema do lado da receita. A previsão do governo está bem realista - defende uma fonte do governo que participa da elaboração dos números.

A dúvida é se a arrecadação estimada pode comportar o aumento de R$10 bilhões do superávit primário (receitas menos despesas antes do pagamento dos juros da dívida), anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no fim de agosto. Pelo último boletim bimestral do orçamento, a projeção da receita neste ano subiu R$15,7 bilhões. Descontadas despesas obrigatórias e outras que surgiram nos últimos dois meses, sobram exatamente R$10,2 bilhões para serem usados para abater a dívida pública.

Para o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, se um dos parâmetros do orçamento muda, consequentemente, o valor da receita tem que se alterar.

- Se de fato alterar um parâmetro como crescimento e não mexer na previsão de arrecadação, é porque ela estava errada antes.

Segundo o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, a situação fiscal do país não apresentará problemas mesmo com crescimento menor - A arrecadação até pode crescer mais sem depender do crescimento, mas é temporário.