Título: Brasil capta US$1 bilhão com juros menores
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 05/11/2011, Economia, p. 34

Tesouro Nacional emitiu títulos para 2041 e, mesmo com crise global, demanda foi elevada e as condições, mais favoráveis

BRASÍLIA e RIO. Apesar da forte turbulência na Europa, com a crise da dívida nos países centrais, o governo brasileiro não só conseguiu captar ontem US$1 bilhão no mercado internacional, como os investidores pagaram ágio para comprar o papel. Os recursos foram decorrentes da emissão do título Global com vencimento em 2041. Embora o Tesouro Nacional tenha feito uma oferta inicial de US$500 milhões, a demanda pelo papel brasileiro foi tão elevada que o valor teve que ser dobrado.

- O Brasil saiu fortalecido da crise de 2008 e os fundamentos da economia estão muito bem. Isso torna o país um lugar atraente para se investir - disse ontem um técnico do governo, acrescentando: - Como o Tesouro tem feito menos emissões no exterior, os investidores têm grande demanda por papéis, especialmente aqueles com prazo de 30 anos, como o Global 2041.

O título foi negociado em condições vantajosas para o governo brasileiro. A taxa de retorno para o investidor ficou em 4,694% ao ano - a menor já paga pelo Tesouro por um título de 30 anos. Para comparação, o Global 2041 foi lançado em 2009 com uma taxa de retorno de 5,8%. No ano passado foi feita uma segunda emissão do título e o retorno para o investidor foi de 5,2%.

Pais já captou US$2,825 bilhões desde 2009

Com a nova captação, o Brasil já conseguiu arrecadar US$2,825 bilhões com o Global 2041 desde 2009. O valor ainda pode subir em US$100 milhões. A operação de ontem foi nos mercados europeu e americano, podendo ser estendida para a Ásia.

A emissão foi liderada pelos bancos Barclays Capital e Bank of America Merrill Lynch. Os títulos têm um cupom de juros (taxa paga periodicamente) de 5,625% ao ano e foram emitidos com spread de 160 pontos acima do título do Tesouro americano) com vencimento semelhante.

O Global 2041 foi ofertado por 114,70% de seu valor de face. Isso significa que os investidores aceitaram pagar um ágio pelo título. Quando a negociação ocorre por um percentual inferior ao valor de face, os investidores cobram um ágio para comprar o papel.

Embora considere o valor de US$1 bilhão emitido pouco significativo, o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, avaliou como positivo o resultado da emissão. Para ele, o sucesso da operação confirma que o país tem acesso a títulos com bom prazo e taxas baixas.

- Pelo prazo dos títulos, o resultado é positivo. Talvez este não fosse o melhor momento, mas foi um bom teste - disse.

Um ambiente externo de calmaria permitiria taxas melhores para os títulos emitidos. Mesmo assim, ressalta Knauer, como os títulos são de longo prazo, a operação mostra que papéis brasileiros têm liquidez.