Título: Pressionada, Itália pede que FMI monitore suas reformas econômicas
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 05/11/2011, Economia, p. 33

Berlusconi afirma ter "convidado" o Fundo, que não fez empréstimo ao país

Do New York Times*

CANNES, França, e ROMA. Cedendo à pressão dos líderes europeus, a Itália "convidou" o Fundo Monetário Internacional (FMI) para monitorar a implantação das reformas prometidas por Roma, a fim de evitar que o país sucumba à crise da dívida na zona do euro, anunciaram ontem representantes da União Europeia (UE). O FMI vai examinar as finanças italianas a cada três meses, para assegurar que o cumprimento do plano de austeridade de US$75 bilhões. Além disso, semana que vem uma equipe da Comissão Europeia vai a Roma com o mesmo objetivo, afirmou presidente da UE, José Manuel Durão Barroso.

Ministro pediu saída de Berlusconi, diz "FT"

Autoridades europeias disseram que isso vinha sendo pedido ao premier italiano, Silvio Berlusconi, há algum tempo. Mas o acordo final só foi alcançado na noite de quinta-feira, depois que o presidente americano, Barack Obama, sugeriu a seu colega francês, Nicolas Sarkozy, que convocasse uma reunião de emergência com os líderes da zona do euro, afirmou um representante dos Estados Unidos. Foi nesse encontro que Berlusconi propôs o monItoramento.

Mas o premier italiano afirmou ontem que recusou a oferta de empréstimo do FMI, com o argumento de que a Itália não precisa de financiamento. Ele ainda minimizou a crise, segundo a agência italiana Ansa:

- Parece-me que, na Itália, não existe uma grande crise. A vida na Itália é a vida de um país que tem condições para viver bem, o consumo não diminuiu, é difícil fazer uma reserva em voos e os restaurantes estão cheios - afirmou Berlusconi. - Não estamos preocupados.

A Itália, a terceira maior economia da Europa, tem sido o problema que os líderes vêm tentando evitar ao tentar resolver a crise grega. Se a crise da dívida contagiar a Itália, nem a alavancagem do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), para 1 trilhão, seria suficiente - e a economia global poderia ser arrastada de volta à recessão.

A falta de detalhes sobre o plano de resgate da zona do euro, acertado no fim do mês passado, fizeram com que o retorno dos títulos italianos disparasse nos últimos dias, ficando próximo do patamar que levou Grécia, Portugal e Irlanda a pedirem ajuda à UE.

Ainda assim, o frágil governo de coalizão de Berlusconi tem tido dificuldades de implementar as medidas de austeridade recém-aprovadas, e sem isso não é possível reduzir o déficit do governo e sua dívida, superior a 1,8 trilhão.

O Cavalieri ainda tem enfrentado pressões para renunciar - tanto da oposição como do principal partido da coalizão, o Liga Norte, que já manifestou ser contrário às medidas de austeridade.

Para complicar a situação de Berlusconi, ontem vários jornais europeus afirmaram que o ministro de Finanças do país, Giulio Tremonti teria dito esta semana ao premier que ele precisava renunciar. "Segunda-feira haverá um desastre nos mercados se você, Silvio, continuar em seu cargo. Porque o problema para a Europa e para os mercados é, de fato, você", teria dito Tremonti na última quarta-feira, segundo o diário britânico "Financial Times".

Ontem, durante a reunião do G-20 (grupo das principais economias do mundo), Tremonti não quis comentar o assunto, assim como os demais representantes do governo italiano.

Angela Merkel pede rapidez nas reformas

Apesar das fortes pressões que a Itália sofreu durante a cúpula da UE, no mês passado, publicamente as autoridades europeias afirmam que a decisão de aceitar o monitoramento do FMI foi voluntária.

- Não encostamos a Itália na parede - disse o presidente da Comissão Europeia, Herman van Rompuy.

Já a chanceler alemã, Angela Merkel, ressaltou que o monitoramento do FMI era crucial para convencer países como China e Rússia a investirem no Feef. Segundo fontes, ele disse a Berlusconi e Tremonti que acelerassem as reformas. Atualmente, o Fundo supervisiona os pacotes de resgates concedidos a Irlanda, Portugal e Grécia.

(*) Com agências internacionais