Título: G-20 apaga US$1 tri para FMI de documento final
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 05/11/2011, Economia, p. 33

Após prever recursos para o Fundo nos rascunhos, grupo conclui reunião de cúpula sem definir valor para salvar países

CANNES, França. O encontro de cúpula do G-20 - que reuniu durante dois dias as maiores economias do mundo - terminou ontem sob a sombra do governo da Grécia afundando na crise e sem responder à pergunta que todos esperavam: quem vai dar, e quanto, o dinheiro adicional necessário para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajude a Europa na pior crise de sua história e evite que outros países de fora da Europa sejam tragados com eles para o buraco? Ou ainda: quem vai contribuir com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef), outro mecanismo para salvar o continente?

Nenhum país colocou números na mesa. A frustração era notória, ontem, entre os franceses, organizadores da cúpula. O grande plano para salvação da Europa que a União Europeia (UE) esperava anunciar - e que passava por um aumento dos fundos do FMI - acabou num parágrafo cheio de promessas. Mas todos os montantes que constavam do rascunho do comunicado final foram retirados. A ideia era aumentar os fundos do FMI dos atuais US$300 bilhões para US$700 bilhões. Ou seja: dotar a instituição com um total de US$1 trilhão para as crises.

Dilma promete ajuda mas não cita valores

Esta decisão foi empurrada para uma reunião de ministros das Finanças do G-20, possivelmente no início de dezembro, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O comunicado final do G-20 limitou-se a repetir o de sempre:

"Estamos dispostos a garantir que recursos adicionais possam ser mobilizados rapidamente e pedimos a nossos ministros das Finanças para trabalhar até sua próxima reunião no desenvolvimento de um leque de opções que incluam contribuições bilaterais ao FMI, DES (Direitos Especiais de Saque, a moeda do FMI) e contribuições voluntárias à estrutura especial do FMI."

A presidente Dilma Rousseff prometeu ajuda do Brasil ao fundo, mas não citou números. Ela disse que valores não foram discutidos, mas rascunhos do comunicado continham cifras:

- A ampliação do Fundo Monetário Internacional num momento de crise é importante para reduzir o risco sistêmico. Quanto a valores, não foram discutidos - afirmou Dilma, acrescentando que os europeus precisam de mais tempo para implementar o resgate da dívida grega, definir o fundo de estabilização e recapitalizar os bancos.

O FMI está entrando até agora com um terço da ajuda aos países europeus em crise e se tornou numa instituição crucial na prevenção do contágio. Mas com a Itália, terceira maior economia da zona do euro, cambaleando, teme-se que os atuais recursos do FMI não sejam suficientes.

A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, garante que o que o FMI tem hoje é suficiente para o momento atual. A questão é: e depois? Lagarde disse que os países do G-20 garantiram que vão fazer "o que for necessário em termos de recursos, para que o FMI esteja totalmente equipado para as crises".

- Sei que alguns queriam ver grandes números anunciados, mas acho que, dado os graus de incerteza e volatilidade nas circunstâncias atuais, é melhor não ter uma limitação (de número) e sim um comprometimento unânime do G-20 de que recursos estarão disponíveis - disse.

Feef também fica sem definição de recursos

Além da indefinição no aumento dos recursos do FMI, nenhum país anunciou novas contribuições para o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef). O fundo tem hoje 440 bilhões, mas que deverão ser consumidos por Irlanda, Portugal e Grécia. Na semana passada, a Europa negociou um plano de combate à crise que previa não apenas ajuda à Grécia como um aumento dos recursos do Feef.

Com a recusa do Banco Central Europeu (BCE) em pôr dinheiro nisso, restaram aos europeus apelar para países emergentes, como China ou Brasil. Dilma, porém, descartou a possibilidade de contribuir para o fundo, e nenhum outro país se aventurou a colocar um montante na mesa de reunião do G-20.