Título: BC aperta o cerco a empréstimos de longo prazo
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 12/11/2011, Economia, p. 27

Com um olho na inflação e outro na inadimplência, governo mantém pagamento mínimo de cartão em 15%

BRASÍLIA. Com o ritmo menor de atividade econômica e uma queda maior que o esperado no crescimento do país, o Banco Central (BC) suspendeu barreiras - criadas no fim do ano passado, quando a preocupação maior era com a inflação - para os bancos emprestarem a curto prazo. No entanto, com medo do aumento da inadimplência, a diretoria da autarquia elevou as restrições para os financiamentos mais longos, acima de 60 meses, e também desistiu de aumentar o valor mínimo de pagamento da fatura de cartão de crédito, que subiria para 20% no início do mês que vem. Com a decisão de ontem, o percentual mínimo continuará em 15%.

O argumento oficial é que a exigência atual de pagamento da fatura do cartão foi um nível considerado adequado pelos diretores.

- A boa prática econômica mostra que quando a atividade produtiva desacelera, o BC precisa estimular os bancos a emprestarem mais para reativar a economia e evitar oscilações bruscas no emprego - disse o economista-chefe da Corretora Votorantim, Roberto Padovani.

Incentivo para empréstimos no crédito direto

Segundo ele, a regulação bancária tem de funcionar como um mecanismo anticíclico, ou seja, estimular a economia quando ela vai mal e ser um freio em tempos de muito crescimento. E foi o que aconteceu. O BC diminuiu o percentual de dinheiro que as instituições têm de deixar em caixa para fazer empréstimos mais curtos.

A partir de ontem, o "pedágio" exigido para fazer um crédito direto ao consumidor (CDC), por exemplo, caiu de 16,5% para 11%. Com isso, a autoridade monetária incentiva os bancos a emprestarem mais nessa modalidade com esses prazos. O percentual para crédito consignado até 60 meses caiu nos mesmos termos.

Para o consumidor, as taxas não mudam, mas os bancos ficam com mais dinheiro em caixa e estimulados a emprestar mais. Essas exigências para os empréstimos de menor prazo voltaram aos níveis de antes das medidas conhecidas como "macroprudenciais" tomadas pelo governo para controlar a inflação e o crescimento do país em 2010.

Financiamento de veículos acima de 60 meses tem freio

No caso do financiamento de veículos, o BC tirou exigências referentes ao valor mínimo de entrada, mas aumentou o percentual do que o banco precisa ter de reservas para financiar em mais de 60 meses. O motivo é que, na visão do BC, o carro financiado já se depreciou muito e não vale mais como garantia do empréstimo, o que desestimula a quitação da dívida.

- Acho que o BC fez um ajuste também pensando na possibilidade de aumentar a inadimplência, mas o mais importante nessas mudanças anunciadas é a preocupação com o crescimento econômico que está vindo bem abaixo do que previa todo o mercado financeiro - afirmou Padovani.

O BC avaliou que o risco de todas essas operações acima de cinco anos é muito alto, em razão da inadimplência. Por exemplo, uma pessoa que perde o emprego deixa de pagar o empréstimo com desconto em folha de pagamento. E a probabilidade disso acontecer varia de acordo com o prazo da operação.

A folga de caixa também será sentida pelas entidades de previdência complementar que poderão abater no balanço o valor que mantém no balanço patrimonial.