Título: Mercadante na mira
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2009, Política, p. 6

PMDB vê o líder do PT como responsável por esticar a crise do Senado. Troco viria na CPI

Manifestantes pedem saída de José Sarney em frente ao Congresso

O PMDB cansou de esperar que o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), entenda que, na avaliação da base governista, a crise do Senado e as denúncias contra o presidente da Casa, José Sarney, não passam de tentativa da oposição de desgastar e enfraquecer a aliança entre PT-PMDB. E, se o petista continuar trabalhando pela abertura de processo contra Sarney, levará o troco. A turma fiel a Sarney e ao líder Renan Calheiros (AL), que se reúne pelo menos duas vezes ao dia, ameaçou levar Mercadante à CPI da Petrobras.

Para isso, eles consideram que basta ressuscitar o escândalo que ficou conhecido como ¿dos aloprados¿, sobre a montagem de um dossiê contra os tucanos. A história veio à tona em 2006, em plena campanha eleitoral, quando Mercadante era candidato ao governo de São Paulo. Entre 1º e 15 de setembro, houve troca de 16 telefonemas entre o gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, e Hamilton Lacerda, assessor de campanha de Mercadante e identificado pela PF como um dos principais articuladores da compra do dossiê. Lacerda foi visto entrando no hotel onde a PF prendeu Gedimar Passos e Vanderlan Padilha com R$ 1,7 milhão em espécie, dinheiro que, segundo as investigações, seria usado na compra do dossiê.

Na época, Mercadante desautorizou qualquer ação desse tipo e reagiu de forma incisiva contra a elaboração de dossiês e armações eleitorais, dos quais o PT já foi vítima no passado. O PMDB, no entanto, acredita que só chamar o líder petista à CPI já seria desgaste suficiente para um senador candidato a reeleição que insiste em manter os aliados nacionais sob fogo cruzado.

Aliança Os peemedebistas suspeitam ainda que Mercadante trabalhe contra a aliança entre PT e PMDB em 2010, já que, em São Paulo, Orestes Quércia é candidato ao Senado, apoia José Serra à Presidência da República e indicou a vice-prefeita de Gilberto Kassab (DEM). E, por tabela, pretenderia ainda expor os colegas Delcídio Amaral (PT-MS) e Ideli Salvatti (PT-SC), que têm atuado em sintonia para debelar a crise, como desejam o PMDB e o presidente Lula.

Ideli e Delcídio são os primeiros suplentes do Conselho de Ética do bloco do governo e seriam chamados a votar os recursos dos processos contra Sarney e Arthur Virgílio. Os titulares Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e João Ribeiro (PR-TO) renunciaram. Como eles não querem se expor e deixar Mercadante bem na foto do eleitorado, quem terá que votar são dois adversários de Sarney na bancada, Eduardo Suplicy (PT-SP) e Augusto Botelho (RR), terceiro e quarto suplentes.

O PMDB já pediu a Mercadante que indicasse novos titulares de fora do PT interessados em integrar o Conselho. Sugeriu inclusive Romero Jucá, que, como líder, poderia ser indicado por Mercadante. Só que o petista não aceitou e, segundo os aliados de Renan e Sarney, trabalha hoje pela abertura da investigação. Para tentar chegar a uma solução ao gosto do PMDB, está adiada a reunião do Conselho de Ética da semana que vem.

Enquanto isso, os tucanos observam a queda de braço e avaliam que, se Mercadante reagir passando para o lado das oposições e deixando o PMDB sozinho ¿ ou mesmo renunciando a liderança do partido e expondo colegas do PT ¿ que trate de segurar a avalanche que o PMDB tentará jogar sobre ele na CPI.

DEM se recolhe

PMDB versus PT. PT versus PSDB. PSDB versus PMDB. Com esse triângulo de brigas, rancores e intrigas, o Democratas decidiu se recolher. Nos últimos dias, seus líderes ficaram praticamente fora dos embates relativos à crise do Senado. Eles concluíram que, com essa decisão, além de se preservarem perante as denúncias que envolveram a administração da Casa, não se desgastam com possíveis aliados rumo a 2010. Parceiro do PSDB, o DEM não deseja a reabertura do caso contra o líder tucano Arthur Virgílio. Tampouco deseja romper todas as pontes com o presidente do Senado, José Sarney.

A ordem no Democratas agora é centrar fogo na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, presidida por Demostenes Torres (DEM-GO). Afinal, calculam que é ali o grande palco que o governo,