Título: Fronteira com Peru entre principais rotas
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 13/11/2011, O País, p. 9

Em países como EUA e Austrália, custo social de usuários varia de 0,5% a 1,3% do PIB

BRASÍLIA. O estímulo intenso da droga equivale, diz o psiquiatra Pablo Roig, a dez vezes a sensação de prazer de uma relação sexual. O efeito é um consumo que foge à racionalidade e aumenta o lucro da indústria:

- Os usuários têm gastos importantes. Não é um dia de uso, são todos os dias. Após um tempo, a parte mais primitiva do cérebro prevalece. Ele é um escravo da droga e passa a ter conduta muito próxima da animal.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), coordenador do estudo da Comissão de Segurança, que também trata das rotas pelas quais o crack entra no Brasil, alerta que o consumo cada vez maior de crack vem sendo abastecido por uma rota pouco usada no passado: a fronteira do Brasil com o Peru, países separados pelo Javari, um dos principais afluentes do Amazonas:

- A pasta-base está sendo produzida ali, em pequenas propriedades. Do lado de lá da fronteira, fortaleceu-se uma seita religiosa, cujos membros trouxeram a coca à região. A pasta-base sai dali, entra no Brasil e se transforma em crack aqui.

O delegado Mauro Spósito, da PF em Manaus, explica que no lado peruano do Alto Solimões, quase no Brasil, as produções de pasta-base já atingiram dez mil hectares, contra 17 mil hectares no Alto Huallaga, principal região produtora no Peru. Para ele, o custo da repressão é o menor de todos, se comparado com o custo social, o prejuízo à força de trabalho e ao sistema de saúde:

- O que menos se gasta é em termos de polícia. Você imagina os custos hospitalares.

Pablo Roig diz que, em países onde já se calculou o custo social do uso de drogas, os números são impressionantes. Canadá, Estados Unidos e Austrália contabilizaram que o gasto com prevenção, repressão e tratamento médico-hospitalar de usuários de drogas varia de 0,5% a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) desses países.