Título: Reforma de janeiro pode ser limitada
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Fonte: O Globo, 13/11/2011, O País, p. 4

Mas Dilma deve incorporar o PSD ao governo e também extinguir pastas

ANA DE Hollanda, da Cultura: para o PT, ela é alvo do "fogo amigo"

BRASÍLIA. Com as várias demissões já no seu primeiro ano de governo, a presidente Dilma Rousseff terá agora limites para fazer a ampla mudança que pretendia inicialmente na sua primeira reforma ministerial. Mesmo assim, está disposta a oxigenar a Esplanada dos Ministérios no início de 2012. Além da possibilidade de incorporar ao primeiro escalão um novo partido, o recém-criado PSD, a presidente estuda extinguir algumas pastas. Estariam na mira dessas mudanças administrativas os ministérios da Pesca e dos Portos e outras secretarias.

As seis trocas efetuadas até o momento diminuíram a margem de manobra de Dilma, principalmente para fazer a pretendida "dança das cadeiras", com o objetivo de reduzir o poder dos feudos partidários. Até porque vários dos nomes que deixaram o governo já eram citados anteriormente no Palácio do Planalto como fortes candidatos a saírem na reforma ministerial.

No critério de mudança, Dilma deve levar em conta os ministros problemáticos, que tiveram desempenho sofrível, e aqueles que perderam sustentação política. Neste último grupo, com este perfil, já são apontados nomes como os dos ministros Carlos Lupi (Trabalho) e Mário Negromonte (Cidades), que estão enfraquecidos nos seus próprios partidos, respectivamente o PDT e o PP.

Depois da ameaça inicial feita pelo PDT - no rastro das denúncias de irregularidades no Ministério do Trabalho - de que deixaria o governo com uma eventual saída de Lupi, o partido mudou de tom.

- Se a presidente Dilma quiser renovar os quadros do seu governo, não haverá problemas. Não teríamos dificuldade de sentar com ela e discutir o novo espaço do PDT no governo - ressaltou o líder do PDT, deputado Giovanni Queiroz (PA).

No PT, também há o reconhecimento de que alguns nomes perderam força, como o da ministra Ana de Hollanda (Cultura), que tem sido alvo do "fogo amigo", e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), que, para a legenda, tem feito uma gestão apagada.

Com o pretexto da desincompatibilização eleitoral de alguns ministros, que devem disputar a sucessão municipal de 2012, Dilma pretende formar uma equipe mais afinada com o seu perfil. Além do ministro da Educação, Fernando Haddad, já escolhido como candidato do PT à prefeitura de São Paulo, também sinalizam com candidaturas os ministros Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), em Recife, e Iriny Lopes (Secretaria de Mulheres), em Vitória.

Na nova geografia da Esplanada dos Ministérios, explicou um auxiliar direto, Dilma não pode desconsiderar a relação de força entre os partidos aliados. Dentro dessa lógica, será avaliado o grau de fidelidade das legendas nas votações em 2011 como um critério objetivo para as substituições.

- A presidente Dilma deve manter a lógica partidária para fazer a reforma ministerial, inclusive a que existe dentro do próprio PT - observa o governador Jaques Wagner (PT-BA), lembrando que a pressão dos partidos vem até mesmo de seus diferentes grupos internos, o PT inclusive.

Antes mesmo de Dilma iniciar as negociações, já há lobby de partidos, principalmente do PT, para ocupar espaços e indicar nomes. Os petistas pressionam pela indicação da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para um ministério de visibilidade, depois que ela desistiu das prévias em São Paulo.

Um fator novo que será avaliado é o espaço do PSD no governo, o novo partido que já tem a terceira maior bancada. Apesar de o prefeito Gilberto Kassab (PSD) ter afirmado que a sigla é independente, há o reconhecimento no Planalto que será preciso contemplar a nova legenda, que age no Congresso como partido governista.

Ao mesmo tempo, o PMDB já começa um movimento para ampliar espaço, depois que ficou com pastas secundárias na primeiro ano de governo Dilma. E, principalmente, pelo fato de que tem se comportado como o mais fiel aliado.

- O PMDB provou que é leal nas votações mais importantes, como na DRU e no salário mínimo. A presidente Dilma entendeu o papel do PMDB não apenas como aliado, mas como governo. Mostramos que ela pode confiar no PMDB - disse o líder do partido, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).