Título: Até aliados no PDT já acham que Lupi deve sair
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/11/2011, O País, p. 11

Em reunião, Dilma cobra explicações de ministro, que vai depor hoje no Senado e diz ter recebido apoio de Lula

Gerson Camarotti, Isabel Braga e Maria Lima

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff aguarda explicações convincentes do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em seu depoimento, hoje no Senado, a respeito das suspeitas que pesam sobre as relações dele com dirigentes de ONGs conveniadas com sua pasta. Mas, diante do constrangimento que a situação do ministro já provoca no governo e no partido, o próprio PDT começou a negociar ontem a saída de Lupi do cargo.

Numa conversa com o ministro, o presidente em exercício do partido, deputado André Figueiredo (PDT-CE), defendeu que ele deixe o cargo para evitar mais desgastes. Lupi, no entanto, resistia, contando com o apoio, segundo ele, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lupi diz que Lula lhe deu apoio em reunião com Dilma

Segundo relatos de Lupi a vários de seus companheiros do PDT, Lula falou por telefone no "viva-voz", durante a reunião do ministro com a presidente Dilma Rousseff, pela manhã no Planalto. Lula teria pedido para que ele "resistisse e enfrentasse as denúncias da mídia". Segundo a versão de Lupi a quatro deputados ouvidos pelo GLOBO, o ex-presidente disse que, se ele tinha convicção de que não errou, deveria ir até o fim.

Lupi também foi contundente no seu relato, contrariando informações do governo:

- O ministro Lupi disse que a presidente pediu para que ele ficasse no cargo. E Lupi disse que vai ficar. Só tem duas formas de Lupi sair: ou pelo desejo da presidente, ou por iniciativa dele. E a presidente quer que ele fique. E Lupi não quer sair - disse o deputado Paulinho da Força Sindical (PDT-SP).

Ao longo do dia as versões sobre a conversa de Dilma com Lupi eram desencontradas. A presidente também não se manifestou publicamente, mas a avaliação feita por seus auxiliares é que Lupi perdeu as condições políticas para permanecer no cargo, diante das evidências de que mentiu ao negar ter viajado no avião King Air providenciado por Adair Meira, dirigente de ONG com convênios com o ministério. O Planalto não se manifestou, até o fechamento desta edição, sobre as versões de Lupi para o encontro com Dilma.

Com saída de Lupi, PDT deve continuar na base

Logo após a conversa com Dilma, Lupi se reuniu com Figueiredo e Paulinho. Figueiredo defendeu a saída dele do cargo:

- Temos confiança no ministro. Resta saber se é oportuno diante dessa situação, inclusive pessoal, a permanência dele no governo. O ministro diz que vai resistir e vai explicar tudo, mas é uma situação de desgaste. É desgaste para o partido e para o ministro. O nome dele e do partido estão na pauta da imprensa e isso é desgastante - disse Figueiredo, um dos políticos mais próximos de Lupi.

Figueiredo reconheceu as contradições no caso do uso do jatinho particular numa viagem de Lupi ao Maranhão, em dezembro de 2009:

- Ele vai dar as explicações. Não se sabe quem pagou o avião (King Air). O presidente da ONG Pró-Cerrado (Adair Meira) disse que não foi ele. Nesse aspecto, a pessoa mais indicada para dar explicações é o ministro. Esse equívoco tem que ser esclarecido, e ele vai esclarecer. O avião não foi pago nem pelo diretório estadual nem pelo diretório nacional.

Figueiredo adotou ontem postura que já vinha sendo defendida pelo chamado grupo ético do PDT:

- Caso Lupi saia, o PDT não deve indicar substituto. O PDT defende causas. Numa situação como essa de desgaste, não temos que nos apegar a cargos. Temos que mostrar que confiamos na presidente Dilma Rousseff mesmo sem cargos - afirmou.

Esse movimento é defendido, desde o início da crise no Ministério do Trabalho, pelo deputado Miro Teixeira (RJ) e pelos senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MS).

- Se a cúpula do PDT disser que para isso precisa de cargos, não estará falando pela totalidade do partido. Quem disser que o PDT precisa de cargos para apoiar o governo, está mentindo - afirmou Miro.

- Eu entendo que o presidencialismo de coalizão que existe no Brasil tem de ser repensado. Não pode servir para o aparelhamento do governo pelos partidos. O PDT tem de ficar na base, independentemente de cargo ou ministério - disse Taques.

O PDT convocou para hoje uma reunião da Executiva Nacional, que pode acontecer antes do depoimento de Lupi no Senado. Para tentar reverter a tendência do partido de defender sua saída do cargo, Lupi telefonou para os deputados da bancada, a quem disse ter a confiança da presidente Dilma, e que estava disposto a resistir.

Em meio à crise, os colegas de partido de Lupi já discutiam, nos bastidores, sua eventual substituição por outro pedetista. André Figueiredo é um dos candidatos. Mas os mais fortes são o ex-senador Osmar Dias (PR) e o deputado gaúcho Vieira da Cunha, a quem Dilma chama de "Vieirinha".