Título: Recessão em 2009 foi menor: IBGE revisou a queda de 0,6% para 0,3%
Autor: Batista, Henrique Gomes; Valente, Gabrie
Fonte: O Globo, 18/11/2011, Economia, p. 29

Indicador do BC mostra redução do PIB de 0,32% no terceiro trimestre

RIO e BRASÍLIA. A recessão brasileira em 2009, causada pela crise global, foi menor: o IBGE revisou os dados do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), que apresentou uma redução de 0,3%, contra previsão inicial de queda de 0,6%. Essa revisão - algo habitual - mostrou que os investimentos e a construção civil recuaram menos, da mesma forma que o consumo das famílias foi mais forte do que o inicialmente previsto. O PIB em 2009 somou R$3,24 trilhões e o PIB per capita ficou em R$16.917,66, valor 1,3% inferior ao resultado de 2008. Com essa revisão, os números do PIB de 2010 e de 2011 também serão revistos e divulgados juntamente com o PIB do terceiro trimestre no próximo dia 6 de dezembro.

- Os dados comprovam que 2009 foi um ano atípico, porque foi o período da crise global. Mas os dados mostram que o pior momento foi o fim de 2008 e o início de 2009. No fim do ano já havia forte recuperação - disse Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

E, pelos cálculos do Banco Central, o país verá queda na atividade no terceiro trimestre pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2009 (-2,4%). O índice de atividade do BC caiu 0,32% de julho a setembro frente aos três meses anteriores.

- Acho muito pesado falar que estamos indo em direção a uma recessão, mas estamos, sim, tangenciando uma recessão, porque acho que, no último trimestre, o Brasil deverá ter um crescimento zero - avaliou o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio de Almeida.

A revisão dos números de 2009 foi provocada por uma melhora no desempenho da agricultura (de -4,6% para -3,1%) e da Indústria (de -6,4% para -5,6%). Os investimentos também caíram menos: de 10,3% para 6,7%.

E na divisão do bolo do PIB - que só é divulgada quando acontece a última revisão - favoreceu os trabalhadores. Segundo o instituto, a remuneração dos empregados abocanhou 43,6% da renda total contra 40,1% em 2005. A maior participação da década, segundo o IBGE. Já o excedente operacional bruto - a remuneração sobre o capital e o lucro - baixou para 33,2%. Em 2005, essa parcela era de 35,2%.

O economista Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que chamou a atenção a forte redução no fluxo de poupança das famílias:

- Em 2002, as famílias pouparam 1,4% do PIB. Em 2004, esse valor representava 1% do PIB e, em 2009, pouparam apenas 0,1% do PIB. Isso explica o forte aumento do consumo.

Na revisão, construção civil caiu menos em 2009

O economista Fernando Montero, da Convenção Corretora, afirma que o dado definitivo de 2009 trouxe boas notícias, como a de que o investimento e a construção civil (saiu de -6,3% para -0,7%) caíram menos.

- Mas é cedo para dizer como ficará o PIB de 2010 (revisto). Se olharmos a demanda, é possível dizer que o resultado pode ser revisto em 0,2 ponto percentual para cima, algo em torno de 7,7%. Mas se olharmos para a oferta, a alta seria menor, de 0,04 ponto percentual. Acredito que o resultado de 2010 deve ficar perto da previsão, com uma alteração nos estoques para justificar a demanda maior.

Já a queda da atividade de 0,32% previsto pelo BC no terceiro trimestre de 2011 mostra "o baque da crise no Brasil foi maior do que se esperava", para a economista-chefe do Royal Bank of Scotland (RBS), Zeina Latif:

- É um quadro pior do que se imaginava lá atrás. Tem mais contaminação da crise do que se esperava. Não é um simples ajuste de estoque. É redução de investimentos, de consumo das famílias, do crédito sem força e aumento da inadimplência.