Título: Para Minc, rodamoinho atrairia óleo para litoral
Autor:
Fonte: O Globo, 18/11/2011, Economia, p. 27

"Rotator de corren" pôs equipes do Inea em alerta em Búzios; para pesquisador, óleo se afasta rumo ao oceano

O vazamento de óleo pode ganhar força por conta de um fenômeno natural, chamado pelo secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc, de "rotator de corrente". Embora ele ocorra em alto-mar, a mais de 100 quilômetros da costa, sua força provoca uma espécie de rodamoinho. O que entra ali pode ser jogado para perto do litoral, numa área entre Rio das Ostras e Búzios. Ciente da força deste evento, sua pasta deslocou técnicos do Instituto Estadual de Ambiente (Inea) para a região.

Os estragos estimulados pelo rotator teriam um efeito especialmente danoso naquela área e nesta época do ano. Na região porque ela é palco de um fenômeno único no mundo conhecido como ressurgência - o encontro de águas quentes, provenientes do norte, com frias, vindas do sul, que provocam a subida de nutrientes, atraindo uma biodiversidade que, até agora, tem escapado relativamente ilesa dos danos ambientais provocados pelas plataformas de petróleo.

A época do ano também não é a melhor para um incidente desta magnitude. Entre o fim de outubro e o início de dezembro, passam pelo litoral fluminense espécies de baleias, como a jubarte e a minke anã, e golfinhos, como o nariz-de-garrafa e o pintado-do-atlântico, à busca de águas quentes para se reproduzir. Após este período, elas descem novamente para a América do Sul em busca do krill, um pequeno crustáceo que é seu principal alimento. Minc admite não saber ainda se o vazamento de óleo prejudicaria o ciclo cumprido por estas espécies.

- Não sabemos de que forma isso (o vazamento) vai pegar ou afetar - revela. - Já temos pronto, em todo o país, um mapeamento da sensibilidade do litoral face ao óleo derramado. Estamos tentando pôr estes dados em prática no Rio. Por isso negamos recentemente um pedido para construção de um porto offshore em Arraial do Cabo.

Para o professor de Engenharia Oceânica da Coppe-UFRJ, Afonso de Moraes Paiva, especialista em correntes marinhas, o óleo vazado está se afastando do litoral fluminense.

- Há, naquela região, uma grande corrente marinha, que dá origem a vórtices. Mal comparando, tratam-se de rodamoinhos que chegam a 200 quilômetros de diâmetro - explica. - Aparentemente esta mancha de óleo foi capturada por um desses vórtices e está seguindo, em alto-mar, para o sudeste, rumo ao oceano.

Um dos maiores especialistas do país em cetáceos, Salvatore Siciliano, do Grupo de Estudo de Animais Marinhos da Fiocruz, teme pelo que o vazamento pode provocar à vida marinha da região.

- Vazamentos como esse sempre causam grande preocupação no que diz respeito, por exemplo, às aves marinhas. Elas são extremamente vulneráveis ao óleo no mar. Mergulham para pescar e ficam cobertas de óleo. Para elas, isso é a morte - alerta.