Título: TCU prepara a lupa
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2009, Brasil, p. 13

Ações do governo no combate ao vírus A (H1N1) serão fiscalizadas a partir da semana que vem

Toda a estratégia do Ministério da Saúde de prevenção, controle e tratamento da Influenza A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína, vai ser fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a partir da próxima semana. O órgão deve fazer um pente-fino na compra do Tamiflu (fosfato de oseltamivir) e da vacina, além de verificar se as constantes mudanças de protocolos estão adequadas e se o Sistema Único de Saúde (SUS) tem leitos para atender todas as pessoas que necessitarem de tratamento. Em relatório preliminar, aprovado nesta semana, o TCU constatou falhas no monitoramento dos passageiros internacionais que desembarcam no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) e em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai.

Sem prazo definido para terminar seus trabalhos, a auditoria do TCU promete acompanhar todas as atividades do Ministério da Saúde relacionadas à gripe suína. ¿Consciente da grande disseminação da doença em nosso país, o tribunal colocou como uma de suas prioridades a nova gripe. O assunto está em pauta e deve ser tratado com responsabilidade pelas autoridades competentes¿, ressaltou Ismar Barbosa Cruz, da Quarta Secretaria de Controle Externo do órgão.

Proposta pelo ministro Marcos Vinícius Vilaça e iniciada em 14 de maio, a auditoria, relatada pelo também ministro José Jorge, propõe que sejam adotadas providências urgentes pelos ministérios da Saúde, da Defesa, e das Relações Exteriores, e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para que viabilizem, por meio de sistemas informatizados, a lista dos passageiros internacionais que desembarcam no Aeroporto de Guarulhos. ¿O acesso rápido às informações relativas aos passageiros é essencial ao desempenho das atribuições da Anvisa¿, destacou José Jorge em seu texto. Os técnicos do TCU constataram ainda déficit de funcionários da vigilância sanitária e dificuldades na obtenção dos nomes das pessoas que saem e entram do Brasil, via Guarulhos. O trabalho de campo foi realizado de 1º a 17 de junho.

Plano brasileiro

O relatório da auditoria, ao qual o Correio teve acesso com exclusividade, cita, por exemplo, que o Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza teve alguns indicadores reprovados pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. O documento foi enviado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério depois que o TCU questionou sobre a existência de relatórios de avaliação à estratégia nacional de combate a pandemias.

Embora tenha sido preparado para evitar a entrada da gripe aviária, o plano brasileiro ¿ que encontra-se atualmente em processo de atualização ¿ foi reprovado pelo CDC nos quesitos capacidade de comunicação (0,75), capacidade epidemiológica (1,25) e capacidade de resposta do sistema de saúde à pandemia (1,50). Por outro lado, a avaliação, com escala que vai de 0 a 3, aprovou o planejamento do país (3), capacidade laboratorial (3), capacidade de resposta no início do surto de influenza (3), e recursos para contenção (2,75).

Médicos dizem que não há kits Paulo de Araújo/CB/D.A Press Segundo infectologistas, o Laboratório Central de Saúde está com os estoques afetados devido à alta demanda

A grande demanda por kits para confirmar ou descartar o diagnóstico da Influenza A (H1N1) já afetou os estoques do Laboratório Central de Saúde do Distrito Federal (Lacen), segundo alguns infectologistas relataram ao Correio. A Subsecretaria de Vigilância à Saúde, que não confirma a denúncia dos médicos, diz que não pode repassar informações sobre os instrumentos que integram o exame. O produto teria se esgotado há dois dias na capital federal.

Na condição de não ser identificada, uma médica de um hospital da rede pública disse que os kits ¿ compostos de um grande cotonete denominado swab e de recipiente para coletar as amostras das secreções da narina e faringe ¿ já não são encontrados há dois dias na cidade. ¿Sem esses instrumentos, não podemos confirmar se o paciente está ou não infectado com a gripe A. Há dois dias, tenho solicitado ao Lacen, mas estou enfrentando dificuldade em obtê-los¿, confirmou a profissional de saúde.

O problema também é confirmado pelo infectologista Marcone Pinhati, do Hospital Santa Luzia. ¿Para conseguir os kits, temos recorrido, algumas vezes, a outros meios. Mas essa dificuldade é compreensível, pois houve um grande aumento de solicitação do material de coleta¿, opina Pinhati.

Ao contrário do relato dos médicos, o pediatra Marco Antônio Alves, que trabalha no setor de doenças infecciosas do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), diz não ter encontrado nenhuma dificuldade para obter os kits de diagnósticos com o Lacen. ¿Não tive nenhum problema¿, disse, lembrando que três crianças encontram-se internadas com suspeitas da influenza A em apenas um dos andares do HRT.

Depois de receber o kit de diagnóstico do Lacen, o profissional realiza a coleta no paciente e, em seguida, envia ao laboratório local, que remeterá ao Adolfo Lutz (SP) para confirmar ou destacar a gripe A. (RC)