Título: Propaganda proibida
Autor: Vilela, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2009, Brasil, p. 14

Anvisa determina a interrupção de publicidade de remédios para a Influenza comum

Tamiflu nas farmácias: especialistas acreditam que a automedicação é cultural e que a medida não vai mudar isso

O aumento nos casos de gripe A (H1N1) no Brasil levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a publicar uma resolução suspendendo as propagandas dos medicamentos usados no alívio dos sintomas da gripe sazonal. A medida foi publicada ontem no Diário Oficial da União na tentativa de diminuir a automedicação com drogas que possam mascarar os sintomas e dificultar o diagnóstico da nova gripe.

Com a resolução, ficam proibidas temporariamente as propagandas em meios de comunicação de massa, incluindo a internet, de produtos à base de ácido acetilsalicílico (Aspirina, Melhoral) e também de medicações vendidas sem receita médica que tenham propriedades analgésicas, antitérmicas ou que sejam à base de paracetamol (Tylenol, Resfenol), dipirona sódica (Novalgina, Anador, Buscopan Composto) e ibuprofeno (Alivium).

O médico epidemiologista José Evoide de Moura alerta que, embora a medida tenha sido tomada por causa da pandemia, esses remédios nunca devem ser consumidos sem acompanhamento médico. ¿A febre é um alerta de que algo ainda está errado. Às vezes a doença pode evoluir, piorar e o paciente não sentir porque estava fazendo uso dessas medicações¿, alerta o médico. ¿No caso da nova gripe, é a mesma coisa, mas com um grau de atenção maior porque estamos tomando a decisão de tratar o paciente a partir do que ele sente.¿

Ele lembra que a automedicação é uma questão cultural. ¿Essa proibição é uma tentativa de diminuir o uso indevido e indiscriminado de medicações. Se vai ter efeito ou não, só o tempo vai dizer. Mas, talvez, seja uma primeira medida para acabar com isso¿, observa José Evoide.

Mas para o infectologista Edimilson Migowski, a medida não é eficaz. ¿A venda é livre, as pessoas já conhecem os medicamentos. Além disso, é improvável que os medicamentos mascarem as complicações, como pneumonia, falta de ar e aumento do cansaço¿, diz. Ele critica a administração do antigripal. ¿A letalidade da gripe não é por conta da automedicação, mas porque as pessoas não estão sendo medicadas corretamente.¿

Jovem sem o vírus

A Secretaria Municipal da Saúde de Guarulhos, na grande São Paulo, informou ontem que a estudante Jaqueline Ruas, 15 anos, que morreu na viagem de volta da Disney, não havia contraído o vírus Influenza A (H1N1). O exame foi feito pelo Instituto Adolfo Lutz a partir de restos coletados no Instituto Médico Legal (IML), e o resultado apontou que a jovem não tinha nem a nova gripe, nem a gripe comum.

No fim de julho, Jaqueline ficou doente enquanto participava de uma excursão no parque temático da Disney, em Orlando, nos Estados Unidos. Ela foi atendida no Celebration Hospital, onde exames também tiveram resultado negativo para a Influenza A (H1N1). No entanto, por medida de precaução, os médicos norte-americanos receitaram para a estudante o antiviral Tamiflu, usado no combate à gripe suína.

Jaqueline Ruas morreu no voo de volta para o Brasil em decorrência de uma infecção generalizada. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte.