Título: Dólar mais caro ajudou a conter dívida pública em setembro
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 01/11/2011, Economia, p. 25
Governo poupa R$8,1 bi em setembro, mas o valor é menos de metade do que era preciso para pagar juros
BRASÍLIA. A desvalorização cambial (dólar mais caro) de 16,8% em setembro propiciou um alívio às contas públicas brasileiras. A relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) - um dos principais indicadores de solidez de uma economia - atingiu no mês passado o menor patamar da série história, que foi em 2001, quando o Banco Central começou a registrar os dados. O indicador caiu de 39,2% para 37,2%, muito abaixo do que previa o mercado. Essa queda significou uma economia de R$81 bilhões, porque o Brasil tem mais reservas internacionais (colchão de proteção a choques externos) do que endividamento em dólar.
O setor público também economizou de forma robusta para abater a dívida. Em setembro, o setor público fez superávit primário (descontando pagamento de juros) de R$8,1 bilhões. Os motores do resultado foram os governos federal (R$5,9 bilhões) e estaduais (R$2,2 bilhões). Mas o pagamento de juros no mês era bem maior: de R$17,3 bilhões.
Os R$8,1 bilhões são menos de 30% do que foi economizado no mesmo mês de 2010:
- O resultado não pode ser comparado com setembro de 2010, pois naquele período a receita da capitalização da Petrobras inflou o saldo. A situação de 2011 já está garantida e tem um preço: basta obter um superávit médio mensal de R$7,7 bilhões no último trimestre deste ano para o cumprimento da meta cheia. O panorama fiscal de curto prazo favorece novos cortes nos juros - diz o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho.
Nos primeiros nove meses do ano, governos federal, estaduais e municipais já cumpriram 82% da meta de superávit primário para 2011, que é de R$127 bilhões. Desde janeiro, porém, os juros da dívida chegaram a R$177,5 bilhões: 26% maiores que no mesmo período de 2010.
A redução do percentual da dívida em relação ao PIB, no entanto, não deve durar muito. A moeda americana voltou a perder força frente ao real em outubro. Mesmo provisório, o BC classificou como importante esse movimento para atenuar o impacto da crise internacional. Quanto menor a relação dívida/PIB, menor a pressão para elevar o custo de rolagem da dívida - o que influencia as taxas pagas por empresas brasileiras para se financiar.
Cada alta de 1% do dólar faz a dívida pública cair 0,15 ponto percentual. Como o dólar voltou a se depreciar em outubro, a previsão é que a relação dívida/PIB tenha fechado o mês a 38,2%.
- A queda contribuiu para atenuar os impactos das turbulências do ambiente econômico. Antigamente, uma alta do dólar elevaria o custo de captação das empresas. Ao contrário, hoje resulta em menor vulnerabilidade externa - explicou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.
Para o professor da Unicamp Francisco Lopreato, as mudanças num único mês não podem ser encaradas como permanentes, mas ele ressalta que é muito melhor não ter impacto do que sofrer como nos anos do governo Fernando Henrique, quando uma desvalorização tinha grande influência na dívida pública.
Para o ano, a previsão do BC é que a dívida/PIB encerre o ano em 38,5%. Mas esse número pode mudar, já que houve dois cortes recentes na taxa básica de juros (Selic). Se eles permanecerem por 12 meses, resultarão em uma economia de US$11 bilhões.