Título: Esta crise não é econômica. É política
Autor:
Fonte: O Globo, 16/11/2011, Economia, p. 21
Corpo A Corpo
ERIC HEYER
O economista Eric Heyer, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), só vê uma possibilidade para salvar a zona do euro e a França do colapso: a Alemanha tirar o pé do freio e aceitar que o Banco Central Europeu aja como o americano, intervindo e emprestando, se preciso.
deborah.berlinck@oglobo.com.br
A França corre o risco de perder a nota "AAA"?
ERIC HEYER: Perderemos esta nota por adotar um plano de austeridade muito forte que vai quebrar com o crescimento do país ou porque não adotaremos um plano de austeridade, e os mercados vão concluir que não podemos pagar a dívida. De qualquer forma, estas duas estratégias nos levarão ao fracasso.
E está numa encruzilhada?
HEYER: A França encontra-se numa dinâmica muito ruim, porque nenhuma das estratégias propostas nos permite resolver o problema. Uma das soluções para resolver isso seria o Banco Central Europeu (BCE) assumir o papel de emprestar - o que acalmaria a especulação dos mercados sobre sua falência em potencial. Todo mundo está de acordo com isso, à exceção dos alemães, porque isso criaria inflação. E os alemães têm fobia de inflação. Também temem que isso vá tirar a pressão sobre Estados não virtuosos para que adotem políticas restritivas.
Em quanto tempo a Europa sairá desta crise?
HEYER: Esta crise não é só econômica. É política. Há soluções, mas há freios políticos.
O problema é a Alemanha?
HEYER: É a Alemanha que decide o ritmo. Na reunião de outubro, duas estratégias se confrontaram. A francesa era de que o fundo de estabilização deveria se transformar no credor. Ganhou a estratégia alemã de que isso era impossível.