Título: Vazamento acabou há cinco dias, diz Chevron
Autor: Ordoñez, Ramona; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 19/11/2011, Economia, p. 33

Empresa admite que pode ter havido erro no cálculo da perfuração. Carlos Minc defende mais rigor nas licitações

O presidente da Chevron Brasil, George Buck, disse ontem que, desde o último dia 13, foi interrompida a fonte do vazamento de petróleo provocado pelo poço que estava sendo perfurado pela companhia no campo de Frade, na Bacia de Campos. Em sua primeira entrevista à imprensa desde o início do acidente na semana passada, o executivo disse que, para conter a origem do vazamento, foi injetada uma lama mais pesada (espécie de fluido) que, segundo ele, conseguiu conter a forte pressão do óleo. Esse fluido é usado para conter a pressão do petróleo no momento da perfuração do solo.

- O poço está fechado. A mancha diminuiu e continuamos executando os trabalhos com os órgãos do governo. O que vemos hoje é óleo residual que diminui a cada dia - afirmou Buck.

O executivo da Chevron afirmou que o óleo que continua a vazar é residual e está saindo pelas fissuras que surgiram no solo marinho. Segundo Buck, é impossível calcular o volume total de óleo que vazou porque uma parte se evapora, se degrada, e outra é dispersa pelas correntes marinhas. Pelos cálculos feitos pela companhia, no dia 14, quando a mancha teria atingido o maior tamanho, tinham vazado 882 barris. Ontem, segundo Buck, o volume de óleo existente no local seria de apenas 18 barris.

A Chevron garantiu que não houve falhas nos equipamentos nem nas operações dos técnicos da companhia nem da Transocean, a contratada para realizar os serviços de perfuração.

Segundo executivo, Petrobras avisou sobre a mancha

Buck explicou que o vazamento ocorreu porque a lama injetada no momento da perfuração não foi suficiente para conter a pressão do petróleo existente a 2.279 metros de profundidade (a contar do solo marinho). Em função disso, o petróleo subiu poço acima e, 560 metros antes de chegar ao solo marinho, começou a vazar para a rocha, provocando fissuras. Foi por essas rachaduras que o óleo saiu. Segundo a Chevron, surgiram sete fissuras - a maior tinha 257 metros de largura. Atualmente, essas fendas já estão desaparecendo, com a menor quantidade de óleo que está vazando.

O presidente disse que ainda não se sabe porque a lama injetada não foi capaz de conter o petróleo existente. Ele afirmou que o peso da lama é calculado com base em uma modelagem com uma fórmula complexa e admitiu que pode ter havido erro.

- A modelagem feita para esse reservatório é que pode não ter sido correta - afirmou.

A Chevron garantiu que descobriu que estava ocorrendo o vazamento na noite do dia 9. Por isso, afirma, o acidente foi comunicado à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e ao Ibama na manhã do dia 10. Segundo o executivo, no dia 7 foi detectada uma falha durante a perfuração. No dia seguinte, disse ele, a empresa recebeu um telefonema da Petrobras informando que havia uma mancha de óleo próxima a uma plataforma da estatal no Campo de Roncador. E, finalmente, continuou Buck, no dia 13 foi estancada a fonte do vazamento. O executivo explicou que o poço já está sendo cimentado para ser abandonado definitivamente. Atualmente já foi cimentado um trecho com 360 metros de extensão a partir da profundidade máxima, em direção à superfície.

ANP, Ibama e Marinha dizem que vazamento diminuiu

A ANP, o Ibama e a Marinha informaram ontem que, em sete dias, vazou no Campo do Frade de 1.400 barris de óleo a 2.310 barris de petróleo, entre os dias 8 e 15 de novembro. Representantes das três instituições, o Grupo de Acompanhamento formado na última quarta-feira para monitorar o acidente da Chevron, sobrevoaram ontem a região atingida. Os dados alimentam a guerra de versões que envolve o acidente da Chevron, já que o volume estimado pelo grupo é bem superior aos 650 barris divulgados pela empresa.

Após o sobrevoo, foi constato que "a mancha está diminuindo de tamanho e continua se afastando da costa", diz a nota. A partir da observação visual, estima-se que ela esteja com 18 quilômetros de extensão e 11,8 quilômetros quadrados de área. Destaca-se que, no dia 14, a área observada era de cerca 13 quilômetros quadrados.

- Esse vazamento demonstra que, mesmo com o avanço da tecnologia, continuam a existir riscos de desastres ambientais. Caso o vazamento atingisse o litoral, poderia prejudicar importantes regiões como Campos, Macaé, Rio das Ostras e Búzios - disse o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.

Minc está convencido que todos os órgãos envolvidos precisam adotar novas posturas:

- Ficou claro que o estudo geológico se mostrou falho, pois não apontou a fragilidade do solo. Ou a extração deveria ter sido feita em outra área ou a pressão aplicada foi excessiva.