Título: Segurança é uma preocupação para grandes mineradoras e garimpeiros
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 20/11/2011, Economia, p. 30

Medidas incluem vigilância armada 24 horas e proibição do uso de celular

vivian.oswald@bsb.oglobo.com.br

CRIXÁS (GO). Em torno da Mineração Serra Grande, no interior de Goiás, as cercas de arame farpado enroladas sobre os alambrados e o forte esquema de segurança para entrada e saída de visitantes - e até mesmo de funcionários - é a prova de que não se trata apenas de uma sensação o clima de neurose instalado na planta da terceira maior mineradora de ouro do Brasil. Há um posto da Polícia Militar no portão de entrada e pontos de observação em torres espalhadas pela empresa. O cenário faz lembrar uma penitenciária de segurança máxima.

Ninguém entra com celular ou câmeras fotográficas sem autorização prévia. E, mesmo depois do exaustivo processo de identificação na portaria, só se anda seguindo as marcações pelo chão, sob o risco de levar reprimendas e até mesmo ser expulso do local. Poucos sabem quando sairá o próximo carregamento de ouro da empresa, só quando o helicóptero pousa para buscar a mercadoria - e, em alguns minutos, decola novamente com paradeiro desconhecido. A repórter não teve sequer acesso ao processo de transformação de pedregulhos de mais de uma tonelada em ouro.

A paranoia da Mineração Serra Grande - que é uma joint venture entre as gigantes sul-africana AngloGold Ashanti e canadense Kinross, que também operam em outras regiões brasileiras - tem por objetivo evitar que se repitam os dois roubos registrados desde 2005. O último teria sido acionado por um telefonema de celular de dentro da empresa no momento em que o helicóptero estava sendo carregado.

Funcionários mais qualificados são vigiados

A política de segurança é tão estrita que a empresa mantém também sob a guarda de vigilantes durante 24 horas por dia a área onde vivem os funcionários mais qualificados e a sua Casa de Hóspedes.

A ideia é evitar a exposição de quem detém informações sigilosas estratégicas, como geólogos e engenheiros, a quartos de hotéis, por exemplo. As regras de segurança e planos de carga e descarga de mercadoria são mantidas em sigilo. Quanto menos as pessoas de fora souberem, menos munição gatunos terão contra a companhia.

- Só posso dizer que sai de helicóptero. Até porque a cidade inteira vê a aeronave indo e vindo. Como sai do país, não podemos revelar. Este é um dado estratégico da empresa - disse de um de seus funcionários, que não pode se identificar.

Nem todos os funcionários das empresas sabem muito mais informações do que as suas áreas de competência. Alguns têm acesso a áreas a que outros não dispõem. E nunca ninguém está sozinho com o ouro.

A 20 km dali, na boca da mina de Lavra, que é explorada por um punhado de garimpeiros, não há qualquer aparato de segurança ou vigias de plantão. Mas fica claro que os trabalhadores tampouco se afastam dali. Por volta das 18h30m, um deles chega ao serviço abraçado a um colchão. Vai dormir nas instalações para proteger a área da mina de onde tiram a subsistência. Não são raros os casos de mortes por brigas ou assaltos no garimpo.

Não é de hoje o interesse de assaltantes pelo ouro produzido pelas grandes empresas. Se os roubos podem parecer mais fáceis em minas de menor porte, exploradas por garimpeiros, as companhias maiores continuam sendo alvos de criminosos, dadas a quantidade que produzem e sua organização.

Pequenas remessas para evitar acúmulo do metal

Por isso, em algumas, parte da estratégia é mandar várias pequenas remessas para fora das plantas e assim evitar o acúmulo de muita quantidade no local, em geral mais isolado e desprotegido do que nos centro urbanos.

No último dia 9, uma tentativa de roubo fracassada foi feita na mina de ouro Aurizona, no Maranhão. Homens armados tomaram como reféns os funcionários de um povoado próximo e tentaram forçar a entrada nas instalações de armazenamento do metal da companhia Luna Gold, localizada na mina. Ao final, todos os reféns foram libertados ilesos. Os indivíduos não tiveram sucesso na tentativa de assalto e nenhum ouro foi roubado.

Em nota, a empresa afirmou que a produção havia continuado em Aurizona, sem interrupção, mas com alguns danos às instalações de armazenamento de ouro. A Luna Gold disse ainda que as políticas e procedimentos implementados após um roubo em dezembro de 2010 impediram a perda de ouro na última.