Título: Com cabo eleitoral, contratos de R$3,7 milhões
Autor: Fabrini, Fábio; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 20/11/2011, O País, p. 10

Desenvolvimento Agrário escolheu sem licitação entidade na Bahia coordenada por puxador de votos do ministro

BRASÍLIA. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) firmou contratos de R$3,7 milhões com uma entidade dirigida por um aliado político e puxador de votos do ministro Afonso Florence. Com sede em Salvador, a Cooperativa de Trabalho do Estado da Bahia (Cooteba) foi escolhida, sem licitação, para dar capacitação técnica a agricultores no âmbito do programa Brasil Sem Miséria. O coordenador-geral da entidade, Aldenes Meira, é um declarado cabo eleitoral de Florence, que se elegeu deputado federal pelo PT na campanha de 2010. E destaca publicamente a "gratidão" do ministro por seu engajamento.

Eleito para coordenar a Cooteba de 2011 a 2015, Aldenes é líder do Movimento de Luta pela Terra (MLT) em Itabuna. Militante do PCdoB, prepara-se para disputar pela segunda vez consecutiva, em 2012, uma vaga na Câmara Municipal da cidade - em 2008, foi derrotado. Seu blog reproduz post que descreve a ligação com o ministro, responsável pelos contratos: "Aldenes tem excelente relacionamento com Florence e pediu votos para ele na última eleição para a Câmara dos Deputados. Eleito, o atual ministro é extremamente grato ao comunista".

Após três anos à frente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia, Florence obteve 143 mil votos na campanha de 2010, sendo conduzido em janeiro deste ano ao Desenvolvimento Social graças à influência do seu padrinho político, o governador Jaques Wagner (PT). Em janeiro, primeiro mês à frente da pasta, fez questão de prestigiar a posse de Aldenes na Cooteba.

- Afonso é uma das pessoas merecedoras de votos, é um bom cidadão - justifica o coordenador-geral, ao ser questionado sobre o apoio eleitoral, ponderando que também atuou em favor de outros candidatos.

Além de militantes do PCdoB, a Cooteba abriga filiados ao PT e ao PSB baianos. Os três contratos com o MDA foram firmados em setembro e vão até 2013. A escolha foi feita mediante uma chamada pública de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), modalidade de concorrência menos exigente que a tradicional licitação - e cada vez mais empregada na Esplanada -, prevista pela lei federal 12.188, de 2010, que instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária.

Na Bahia, o MDA abriu duas dessas convocações, distribuídas em nove lotes. A Cooteba se inscreveu em cinco, levando três. Foi a única entidade da sociedade civil a sair vitoriosa no estado, apesar da participação de outras. Os demais contratos ficaram todos com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), ligada ao governo.

- A gente concorreu como outro qualquer. É questão de competência. O ministro nem se envolveu com isso aí - assegura Aldenes, que diz conhecer Florence dos tempos em que, como militante de movimentos sociais, encaminhava pleitos ao então secretário do governo baiano.