Título: Projetado para abrigar 2 mil detentos, presídio de Porto Alegre tem 4.600
Autor: Otavio, Chico; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 20/11/2011, O País, p. 3
Segundo CPI do Sistema Carcerário, a unidade é considerada a pior do Brasil
PORTO ALEGRE. Dois anos após a conclusão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, que considerou o Presídio Central de Porto Alegre a pior cadeia do Brasil, alguns dos fatores que levaram os deputados a colocar o estabelecimento no topo desse ranking permanecem praticamente iguais. A superlotação, por exemplo, continua sendo o principal problema.
Diretor da penitenciária, o tenente coronel Leandro Santiago admite:
- É tudo decorrente do excesso de população: a conservação dos prédios se torna mais difícil, e nossa capacidade de energia e esgoto é muito inferior ao necessário. Estraga a toda hora - assume o policial.
Construído há mais de 60 anos, o Presídio Central pode abrigar 2.097 apenados, segundo o coronel Santiago. Mas na quinta-feira, 17 de novembro, o Central tinha atrás de suas grades 4.609 homens. A situação não é exceção, mas a regra: entre 2005 e 2010, a população anual do complexo variou entre 3.819 e 5.300 presos, número que levou a Justiça a interditar uma parte do estabelecimento em outubro do ano passado. Desde então, o governo do estado cogita fechar a cadeia.
Nas celas mais antigas, projetadas para uma população entre quatro e oito presos, vivem mais de 30. A tabela atualizada periodicamente pelo coronel Santiago exibia um flagrante: a galeria 2A, projetada para alocar 86 presidiários, tinha nada menos que 343 pessoas, que circulavam entre celas sem qualquer separação.
- Mesmo que houvesse portas, não seria possível isolar as celas porque, em alguns andares, existe apenas um banheiro, compartilhado por todos os presidiários - conta o diretor do Central.
O excesso de presos causa dificuldade extra para os 370 policiais do local. Nos deslocamentos dos detentos é complicado manter controle.
- Diariamente, tenho, em média, 10% do presídio fora das celas. É um vai e vem constante que facilita a troca de celulares ou drogas entre eles - confessa o diretor, observando que o presídio, construído para presos provisórios, abriga hoje, em sua maioria, condenados.
- Presos provisórios dificilmente têm vontade de fazer alguma atividade quando estão na cadeia, pois pensam que logo vão sair dali. Por esta razão, temos pouquíssimo espaço de trabalho e vagas insuficientes na escola - justifica o coronel.