Título: Assim começa muito mal
Autor:
Fonte: O Globo, 22/11/2011, O País, p. 10

Filha de Rubens Paiva se diz surpresa com veto ao discurso que faria no ato de sanção da Comissão da Verdade

BRASÍLIA. Filha de Rubens Paiva, um dos desaparecidos durante a ditadura, a psicóloga Vera Paiva publicou ontem na internet o texto que preparou e que deveria ter lido na sanção da lei que criou a Comissão da Verdade, sexta-feira, no Palácio do Planalto. Vera discursaria representando os familiares de ex-perseguidos, mas foi informada pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que não falaria mais. Seu nome foi vetado para não melindrar os militares.

"Assim começa muito mal. Agora entendo o pedido de desculpas da ministra (Maria do Rosário)", disse Vera, na internet. Ela contou ter sido avisada que o evento estava atrasado e que era preciso acelerá-lo. Vera disse ao GLOBO que não houve convite formal e que nem foi desconvidada formalmente.

- Disseram que talvez eu fosse falar. Ninguém confirmou o convite. Parece que, então, me desconvidaram. Nunca convidaram definitivamente - disse. - Talvez, se tivesse falado, a repercussão não seria tão grande. Escrevi o discurso intimamente, para um grupo de pessoas, mas meu irmão decidiu blogar e foi parar na rede.

Ela disse que deveriam ter permitido a um militar discursar.

- Iria dizer o quê?! Que apoia a tortura, a ditadura, o sequestro, a prisão arbitrária?!

No discurso que preparou, ela fez um alerta: "Se a Comissão da Verdade não tiver autonomia e soberania para investigar, e uma grande equipe que a auxilie em seu trabalho, estaremos consentindo. Consentindo, quero ressaltar, seremos cúmplices do sofrimento de milhares de famílias ainda afetadas por essa herança de horror que agora não está apoiada em leis de exceção, mas segue inquestionada nos fatos".

O assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoino, negou que tenha havido veto ao discurso de Vera por parte dos comandantes militares.