Título: Relatório não encerra as polêmicas
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 22/11/2011, O País, p. 9

Ruralistas aprovam texto, mas ambientalistas se mostram insatisfeitos

BRASÍLIA. O texto apresentado ontem pelo relator Jorge Viana não é visto como o ideal nem por ruralistas, nem por ambientalistas. Mas enquanto os primeiros dizem que é o texto "possível", ONGs ambientais fazem muitas críticas.

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS), um dos mais ativos ruralistas a participar das negociações, elogiou a atuação do relator, mas isso não significa que seu grupo se furtará de apresentar emendas para tentar puxar o texto ainda mais para o setor produtivo.

- Eu reconheço o esforço e a boa vontade de Jorge Viana para buscar convergências. A maior parte das diferenças já foi superada, mas ainda não é o texto ideal. A parte da consolidação de áreas produtivas tem sempre uma limitação ou outra. Vamos continuar conversando e apresentaremos emendas. O que não tiver consenso, vamos para o voto - disse Moka.

O presidente da Comissão de Agricultura, Acir Gurgacz (PDT-RO), saiu mais satisfeito que o colega ruralista com o texto de Viana. Para ele, é um projeto que, ao mesmo tempo que atende às reivindicações do setor agropecuário, também exige dos produtores que voltem à legalidade. Ele afirmou que votará a favor da proposta de Viana.

- O texto é bom e traz avanços. Contempla o setor produtivo, mas também os ambientalistas. É um texto equilibrado, que permite que o Brasil possa continuar produzindo e conservando o meio ambiente - avaliou.

Mas ambientalistas não demostraram muita satisfação. Para a WWF, o texto está melhor do que o aprovado na Câmara, mas o analista de Políticas Públicas da ONG, Kenzo Jucá Ferreira, diz que ainda está longe de ser um bom texto para a conservação florestal:

- O texto de Jorge Viana, em relação aos de Aldo Rebelo (relator da matéria na Câmara) e de Luiz Henrique avançou bastante. O problema é que esses dois pontos de partida são muito ruins. O relatório se aproximou do razoável, mas ainda permite a anistia e diminui o volume de APP e Reserva Legal a ser recomposta.

Segundo ele, é muito grave que produtores com até 4 módulos fiscais não tenham que recuperar a Reserva Legal que desmataram. Ele calcula que essa isenção atinja 85% dos imóveis rurais.

O Greenpeace é ainda mais crítico. Segundo Márcio Astrini, da Campanha Amazônia da ONG, Viana mexeu em poucos pontos e de maneira "insuficiente". Ele cobra que a presidente Dilma Rousseff vete o texto para cumprir sua promessa de campanha, de que não permitiria novos desmatamentos e nem anistia.

- O que a gente viu foi um acordo feito entre governo e ruralistas, onde a floresta ficou de fora.

Catarina Alencastro