Título: PDT, controlado por Lupi, discute seu destino
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 22/11/2011, O País, p. 5

Partido ainda não sabe como reagir a plano de Dilma de manter ministro até reforma para, então, tirar pasta da sigla

BRASÍLIA. A cúpula do PDT não sabe ainda que estratégia adotar, na reunião de hoje da Executiva Nacional do partido, para reagir à disposição da presidente Dilma Rousseff de manter o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, até a reforma ministerial de janeiro, quando poderá não só demiti-lo, mas também tirar a pasta do controle do partido e da Força Sindical. Lupi controla mais de 80% do PDT - só dois deputados e dois senadores defendem seu afastamento.

A tendência seria a maioria do partido manifestar apoio à permanência de Lupi no cargo, mas avalia-se ainda qual a melhor estratégia.

"Não adianta colocar outro (ministro) do mesmo partido"

No PT e nos demais partidos da base aliada, há uma certa decepção com a permanência de Lupi no ministério. Mas caciques dessas siglas estão mais conformados porque acham que Dilma fará um revezamento e vai tirar o ministério do PDT, na reforma:

- A presidente Dilma quer fazer uma reforma ampla, com remanejamento de pastas. Não adianta tirar um ministro e colocar outro do mesmo partido - diz o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PT-PR).

Na reunião da Executiva - que contará ainda com deputados, senadores e dirigentes regionais do PDT e terá como tema a conveniência de permanência de Lupi no ministério -, os aliados do ministro não sabem se, mesmo entregando sua cabeça para Dilma, assegurariam o controle da pasta. Alguns admitem o rodízio, trocando o ministério por outra pasta na reforma.

O líder do PDT, Giovanni Queiroz (PA), disse que Dilma ainda não sinalizou com a possibilidade de tirar a pasta do PDT. Mas ele admite mudanças:

- Temos um ministério muito esvaziado, sem ações de ponta, sem capilaridade. Acharíamos até bom se viesse um ministério melhor. O PDT merece, pois tem sido mais fiel que o PT - afirmou. - Não enxergamos cobiça do PT no ministério, nem procede que a CUT esteja sendo maltratada pelo Lupi. O ministro tem atendido muito bem a CUT e todas as centrais.

Ontem, no Senado, o deputado Reguffe (DF) e os senadores Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF) se reuniram para tentar convencer o líder Acir Gurgacz (RO) da conveniência de defender, na Executiva, o afastamento de Lupi. Mas não o convenceram.

- Desde o início, eu sempre defendi a independência do PDT e que não tivéssemos cargos. Quando não se tem cargos, os elogios são mais valorizados e as críticas têm mais legitimidade - insistiu o deputado Reguffe.

- Entendo que o partido está coeso e vai apoiar a permanência do ministro Lupi no cargo. Mas já há uma disposição de iniciarmos uma discussão, desde já, sobre a importância de o PDT continuar no governo ou não - afirmou Gurgacz.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) tem se mantido afastado dessas discussões, mas não culpa só Lupi pela insistência em se manter no cargo. Sequer pretende ir à reunião da Executiva, como não foi das outras vezes.

- O ministro fica porque ele quer ficar, e porque a presidente da República quer que ele fique. Defendo a profissionalização do setor público. Não se pode excluir, no regime presidencialista, a disposição do presidente da República de compor seu Ministério. Se Lupi continua, é porque os dois querem - disse Miro.

Na base governista, há uma pressão quase geral para que Dilma tire o Ministério do Trabalho do PDT e substitua Lupi por um ministro que não contemple majoritariamente a Força Sindical, a queixa atual.